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Acervo RR
A volúpia com que a State Grid chegou ao Brasil está lhe trazendo mais problemas do que benefícios. Os chineses conseguiram formar um amplo arco de desafetos no país. A lista inclui Eletrobras, Cemig, fabricantes de equipamentos e o próprio governo. Todos estão cada vez mais impacientes e incomodados diante da desenvoltura com que o grupo tem se movimentado no mercado brasileiro. Há a percepção de que o célere avanço do grupo asiático na área de transmissão começa a contrariar múltiplos interesses e deslocar posições de mercado. Por parte da Eletrobras, a insatisfação se deve ao risco de perder uma grande oportunidade de ampliar ainda mais os seus domínios no setor. A State Grid atravessou as negociações entre a holding federal e a colombiana Isa e entrou no páreo para a compra de uma participação na CTEEP, ex-estatal paulista e uma das maiores empresas do segmento no país. Não será a primeira vez que os chineses pisam no calo de uma estatal brasileira. A Eletrobras pode acabar repetindo a história da Cemig, que, no ano passado, foi superada pela State Grid na disputa pela compra de sete das 12 concessões em transmissão da Abengoa no Brasil, um investimento de R$ 3 bilhões. Após a derrota, restou a estatal mineira pegar as sobras deixadas pelos asiáticos. Neste ano, adquiriu as cinco operadoras restantes do grupo espanhol. Ainda assim, o governo mineiro jamais engoliu a perda de um dos mais cobiçados pacotes do segmento de transmissão, um emaranhado que somava mais de seis mil quilômetros de linhas. No governo, a questão vem sendo tratada praticamente como assunto de Estado, tamanhos os interesses estratégicos sobre a mesa. O Planalto e o Ministério de Minas e Energia também não veem com bons olhos o avanço da State Grid no mercado brasileiro. Ainda que a Eletrobras tenha uma supremacia insuperável no setor, os chineses começam a se tornar um player com razoável poder de arbitragem de preços com fornecedores. Como se não bastasse este motivo, o governo teme que a expansão do grupo asiático signifique o enfraquecimento da indústria nacional de equipamentos para a área de transmissão. A State Grid tem planos de financiar a vinda de fabricantes chineses que já a atendem em sua terra natal. Seu objetivo é formar uma espécie de cinturão privado de fornecedores no Brasil. Como não há exigência de nacionalização para os projetos de construção e ampliação de linhas transmissoras, significa dizer que as empresas com fábrica no país correm sério risco de perder um importante quinhão de encomendas A indústria local tenta reagir antes mesmo que os parceiros comerciais da State Grid se instalem no país. Por ora, o alvo são as importações feitas pelos chineses. Embora ainda incipiente, já existe uma movimentação liderada pela Abdib e pela Fiesp junto aos órgãos antitruste. Um dos pleitos é que a Seae fiscalize em que condições o grupo chinês está trazendo para o Brasil equipamentos produzidos em seu país. Há indícios de prática de dumping por parte das indústrias chinesas. Além disso, a State Grid estaria se aproveitando de subsídios indevidos concedidos pelo governo chinês para comprar os suprimentos a preços mais baixos do que os praticados no Brasil.
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