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Benjamin Steinbruch reencontra o óbvio perdido

  • 3/02/2011
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A investida da CSN sobre a Usiminas é uma operação capaz de mover placas tectônicas não apenas na siderurgia, mas também em outros três importantes setores da economia: as áreas de cimento, de mineração e de energia. Tudo em razão dos personagens e do modelo emvolvidos na negociação. Benjamin Steinbruch estaria disposto até a abrir mão de seus ativos na área cimenteira para ingressar no bloco de controle da Usiminas e se transformar no maior player siderúrgico do país. Steinbruch aceita colocar suas usinas de cimento sobre a mesa em uma negociação para a compra das participações da Camargo Corrêa e da Votorantim, as únicas portas de entrada no controle da companhia mineira ? uma vez que a Nippon Steel não tem qualquer interesse em se desfazer de sua posição estratégica na siderúrgica. Os ativos da CSN dariam liga a formatos híbridos de negócio. Um deles envolveria parte do pagamento cash e parte com a transferência das fábricas de cimento. Em outro modelo, a Camargo Corrêa e o Votorantim teriam acesso a  escória gerada na aciaria da Usiminas, garantindo matéria-prima para a produção de cimento. CSN e Usiminas protagonizam uma crônica da fusão anunciada há mais de uma década. O namoro começou na época das privatizações. Posteriormente, quando ainda estavam no bloco de controle da usina mineira, Bradesco e Vale passaram a ser vistos como janela para o ingresso da CSN no capital da empresa. Mais recentemente, a  frente do BNDES, Carlos Lessa tentou emplacar a fusão entre as duas siderúrgicas, também sem sucesso. Steinbruch tem moeda de troca e dinheiro em caixa para ressuscitar o projeto. Em jogo, a possibilidade de se tornar o maior siderurgista do país. Juntas, CSN e Usiminas produzem 10,5 milhões de toneladas por ano. Com os planos de expansão da siderúrgica mineira e o projeto de duplicação da usina de Volta Redonda, a nova empresa atingiria uma capacidade superior a 16 milhões de toneladas em até quatro anos. Deixaria para trás a ArcelorMittal, cuja produção está na casa dos 13 milhões de toneladas. Para completar, Benjamin estaria sentado sobre uma significativa reserva de minério de ferro, juntando-se Casa de Pedra com as quatro jazidas da siderúrgica mineira em Serra Azul (MG). Além de redesenhar o equilíbrio de forças no setor siderúrgico, a operação teria impacto na área cimenteira. Ao herdar os ativos da CSN, incluindo os projetos para a construção de três novas fábricas, o Votorantim ficaria ainda mais folgado na liderança do setor. A Camargo Corrêa, por sua vez, teria um trunfo na disputa que trava com o Grupo João Santos e a Holcim pelo segundo lugar no ranking. Completando o seu múltiplo efeito, o movimento da CSN teria o poder ainda de rearrumar as peças no tabuleiro da energia elétrica, criando mais um grande grupo no setor. Com os recursos amealhados com a venda de suas ações na Usiminas, a Camargo Corrêa ganharia ainda mais musculatura para disputar a compra da Neonergia, abrindo caminho para a sua posterior fusão com a CPFL. Estima-se que os herdeiros de Sebastião Camargo precisariam de quase R$ 9 bilhões para consumar a operação. Ressalte-se ainda que a associação entre a CSN e a Usiminas conta com a simpatia do governo, notadamente do BNDES. Além de permitir a criação de um grande grupo siderúrgico de controle nacional, a negociação possibilitaria a redução das importações de aço, assunto que tem mobilizado o governo.

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