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Privatização da Cesp recebe blindagem anti-Cemig

  • 23/12/2010
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Uma das mais longas novelas do setor elétrico vai reentrar em cartaz em 2011. O governador eleito Geraldo Alckmin está decidido a retomar a privatização da Cesp logo na partida do seu mandato. A intenção é lançar o edital até abril. Os assessores de Alckmin já trabalham na formatação do modelo de venda da empresa. Um ponto em especial deverá provocar polêmica no setor. Alckmin vai restringir a participação de estatais na disputa. Elas só poderão entrar como minoritárias, com, no máximo, 49% do consórcio comprador. Tampouco poderão assumir o controle da Cesp por todo o período de concessão, provavelmente de 25 anos. Para todos os efeitos, a intenção do futuro governo paulista é atrair para o negócio os grandes players privados do setor, leia-se CPFL, AES Eletropaulo e Suez, além das grandes construtoras do país, todas com planos para investir na área de energia. Mas o verdadeiro motivo do veto é minimalista, não fosse colossal: impedir uma participação maior da Cemig. Tudo o que Alckmin menos quer é transformar uma estatal paulista em uma estatal mineira. Qualquer relação com o tabuleiro político interno do PSDB não seria mera coincidência. Vender a Cesp a  Cemig significaria transferir o centro de decisões da companhia para uma empresa e um governo absolutamente identificados com Aécio Neves, o principal oponente do tucanato paulista na guerra fria em que vive o partido. Geraldo Alckmin e seus assessores trabalham com a expectativa de que até março estará resolvido o maior obstáculo a  venda da Cesp: a renovação das concessões de suas geradoras. A Aneel está formatando um grande acordo para a prorrogação automática de todas as licenças com vencimento previsto para os próximos dez anos, tanto de usinas privadas quanto estatais. Em relação a  estatal paulista, os casos mais delicados envolvem as hidrelétricas de Ilha Solteira e Jupiá, cujos contratos de concessão vencem em 2015. A Aneel já teria sinalizado a renovação das licenças por mais 30 anos. A incerteza quanto ao futuro destas usinas foi a principal razão para o fracasso da última tentativa de privatização da Cesp, em 2008. Além da iminente resolução deste imbróglio regulatório, a Cesp vai voltar ao balcão com outro atrativo: a melhora de sua saúde financeira. Em 2008, a companhia teve prejuízo de R$ 2,3 bilhões. Neste ano, fechará no azul entre janeiro e setembro, o lucro acumulado foi de R$ 327 milhões. Nos últimos dois anos, a Cesp conseguiu ainda repactuar uma parcela expressiva de sua dívida. Desde a última tentativa de privatização, o passivo de longo prazo recuou de R$ 7,5 bilhões para R$ 5,4 bilhões.

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