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Stora Enso é a incógnita na expansão da Veracel

  • 12/07/2010
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Após virar a página dos derivativos cambiais da antiga Aracruz, uma herança dolorosa que custou mais de US$ 500 milhões, os Ermírio de Moraes estão debruçados sobre outra questão estratégica para o futuro da Fibria: a expansão da Veracel. Estimulados pelo saneamento financeiro da empresa e pelos sinais de recuperação da demanda internacional por celulose, retomaram as discussões em torno da duplicação do complexo industrial, localizado na Bahia. Um novo estudo de viabilidade será apresentado na próxima reunião de Conselho da Fibria e a decisão final deverá ocorrer em até três meses. O projeto prevê a construção de uma segunda planta, com capacidade para dois milhões de toneladas por ano. A disposição dos Ermírio de Moraes, contudo, esbarra em uma grande incógnita: afinal, qual é a posição da Stora Enso, dona de 50% da Veracel? A empresa escandinava é uma esfinge difícil de ser decifrada. Não dá qualquer pista sobre a sua participação ou não no projeto. Para os Ermírio de Moraes, o silêncio da Stora Enso vale mais do que mil palavras. A empresa é carta quase fora do baralho e dificilmente vai dividir o investimento, da ordem de US$ 2,5 bilhões. Procurada pelo RR – Negócios & Finanças, a Fibria informou que a expansão da Veracel está entre suas prioridades, mas a decisão sobre novos investimentos ainda depende das condições do mercado. Com relação a  Stora Enso, a empresa não quis fazer comentários. Por qualquer ângulo que se olhe, vários fatores afastam a Stora Enso da duplicação da Veracel. A empresa sueco-finlandesa foi atingida pela crise mundial e seu impacto sobre o mercado de papel e celulose. Em 2008, teve perdas superiores a 600 milhões de euros. Desde então, o grupo mergulhou em um processo global de corte de custos e de investimentos, inclusive no Brasil. A expansão da fábrica de papel para impressão gráfica em Arapoti (PR), comprada a  International Paper em 2006, foi adiada. A demanda pelo papel LWC, um de seus principais produtos no país, caiu mais de 20% em 2009, o que reduziu significativamente a rentabilidade da companhia. A Stora Enso convive ainda com problemas estruturais que precisam ser equacionados no curto prazo, como a obsolescência de algumas de suas plantas na Europa, o que impõe pesados custos operacionais. Por estas razões, os Ermírio de Moraes estão cada vez mais convencidos de que a expansão da Veracel é um sinônimo de divórcio dos proprietários do negócio. Curiosamente, há cerca de dois anos, a Stora Enso chegou a se movimentar para comprar a participação da então Aracruz na Veracel. Na ocasião, tentou se aproveitar da fragilidade financeira da sócia, abalada pelas perdas com derivativos cambiais, e comprar os 50% da fábrica baiana na bacia das almas. Tentou, inclusive, buscar o improvável apoio do BNDES a uma operação que entregaria a Veracel a um grupo estrangeiro. A reestruturação societária da Aracruz, que culminou com a saída de Erling Lorentzen e de José Safra, brecou a investida dos escandinavos. Agora, os ventos mudaram de direção. A percepção dos Ermírio de Moraes é que a Stora Enso está mais interessada em valorizar seu passe para a venda de parte ou até mesmo dos 50% restantes da Veracel do que em investir um caminhão de dinheiro na empresa. Pelo menos é o que sugere o inquietante silêncio dos escandinavos.

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