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Acervo RR
O redesenho operacional da Shell no Brasil criou um apartheid de forças na companhia, acentuado pelas diferenças de investimento em cada área. Enquanto a afortunada joint venture com a Cosan, presidida por Vasco Dias, herdou toda a rede de postos e, sobretudo, parcela majoritária dos aportes no país, a antiga Shell Brasil só encolhe. A empresa, entregue ao executivo André Araújo, tornou-se refém do crescente esvaziamento das operações de exploração e produção de petróleo do grupo no país. Não obstante ser a maior companhia privada do setor no Brasil, com extração de mais de 70 mil barris por dia, a Shell vai acelerar o processo de venda de ativos na área de E&P. O grupo decidiu negociar suas participações nos blocos BM-ES-28, na Bacia do Espírito Santo, e BM-S-45, BS-4 e S-M-518 em Santos. Este último é integralmente controlado pelos anglo-holandeses. Nos demais, há parcerias com a Petrobras e a Chevron, principais candidatas a compra das ações da Shell nos consórcios. O grupo vai se desfazer ainda de um reservatório na camada do pré-sal. Não por outro motivo, em apenas dois meses de mandato, André Araújo já é chamado nos corredores da Shell de “Doutor desmonte”. O jocoso epíteto é injusto. Há 26 anos na companhia, com passagens por Londres e Washington, Araújo vem tentando frear a desmobilização de ativos em exploração e produção. Recentemente, teria enviado a matriz um alentado relatório com dados geológicos mostrando o potencial dos blocos em que a companhia tem participação.Ao que tudo indica, não foi o suficiente para sensibilizar o board. O comando da Shell já sinalizou a venda de mais duas áreas. Segundo informações filtradas junto a própria empresa, caso todas estas negociações se confirmem, a capacidade de produção no Brasil cairá praticamente a metade. O discurso oficial, disseminado pelo comando da Shell entre os próprios funcionários no Brasil, é que tudo não passa de um reposicionamento de ativos. A empresa estaria apenas fazendo caixa para novos investimentos em exploração e produção. Há dúvidas. A percepção dentro da companhia é que, mesmo com o pré-sal, a matriz vai gradativamente reduzir sua exposure em E&P para aumentar os aportes na joint venture com a Cosan, incluindo novas aquisições de redes de postos.
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