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Abílio Diniz vs. Klein em três assaltos

  • 14/04/2010
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A descoberta de que a mesada de R$ 130 milhões referente ao aluguel dos imóveis da Casas Bahia, nem bem foi combinada, simplesmente evaporou do contrato de fusão rasgou a boa-fé dos Klein. O valor das locações não estava sujeito a  due diligence dos ativos imobiliários. Isso foi batido, repisado e lacrado nas conversas com Abílio Diniz. Ou seja, os R$ 130 milhões por ano não eram sujeitos a deságio e, muito menos, flutuantes, mas, sim, um valor fixo, na lata. Esse quesito é que fazia boa parte do mercado considerar que o negócio tinha sido mais favorável aos Klein do que ao Pão de Açúcar, não obstante o impacto positivo sobre o valuation do grupo de Abílio Diniz. Uma fonte próxima dos Klein confirma que eles só fecharam o negócio devido a  garantia de se tornarem donos de uma grande imobiliária. É consenso entre analistas do mercado que tanto Abílio Diniz quanto os Klein perderão em escala e sinergia se a fusão andar para trás, mas Abílio sentiria mais o golpe. Isso se deveria ao impacto proporcionalmente maior sobre o valor patrimonial do Pão de Açúcar e a  péssima impressão causada junto aos acionistas do Casino pela condução jurídica do episódio, que tende a se tornar uma guerra entre bancas de advocacia. A percepção geral é que Abílio subtraiu do contrato de fusão acordos feitos na base da confiança. Vai ser difícil resgatar a credibilidade que foi tão mal tratada nessa história. Se, por um lado, a família Klein tem motivos para indignação, do outro, Abílio Diniz também tem suas razões para se queixar dos ainda sócios. Um fatura de algumas dezenas de milhões de reais ameaça cair no colo do Pão de Açúcar. A conta diz respeito a antigos débitos tributários da Casas Bahia no Rio Grande do Sul, boa parte relativa ao recolhimento de ICMS em vendas com cartão de crédito. A Secretaria de Fazenda gaúcha ensaia entrar na Justiça para cobrar as dívidas, que estariam na casa dos R$ 50 milhões. Desde o início de 2009, o governo gaúcho vem tentando renegociar integralmente o passivo apenas na esfera administrativa, sem recorrer a  Justiça. Houve alguns acordos pontuais, relativos a multas específicas. No meio do caminho, a própria Secretaria de Fazenda do estado chegou a detectar alguns equívocos nos autos de infração, o que reduziu o valor do débito. No entanto, a maior parte segue em aberto. Os Klein, e, agora, o Pão de Açúcar contestam os critérios usados pela Secretaria de Fazenda do Rio Grande do Sul para a cobrança do imposto. O imbróglio, se não foi o motivo principal, ao menos acelerou a saída definitiva da Casas Bahia do Rio Grande do Sul. A despedida se consumou em dezembro do ano passado, quando a empresa fechou suas últimas cinco lojas locais.

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