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Acervo RR
Até mesmo o super-zen Luciano Coutinho já percebeu que precisará tomar alguns lexotans para levar até o fim o projeto de criar um grande laboratório farmacêutico de controle nacional. Apesar da boa-vontade do BNDES e das declarações otimistas de alguns de seus dirigentes, a disputa de poder entre as companhias, apimentada por uma boa dose de vaidade e idiossincrasias dos empresários, tem deixado os executivos do banco com os nervos a flor da pele. Nenhum dos três grandes laboratórios que vêm mantendo conversações com a instituição ? Aché, EMS e Eurofarma ? aceita vestir o figurino de consolidado. A hipótese originalmente concebida pelo banco previa que o Aché incorporasse um ou até mesmo os outros dois grandes fabricantes nacionais, partindo para a compra de empresas de menor porte. No entanto, o projeto aflorou antigas rivalidades. A família Billi, controladora da Eurofarma, e Carlos Sanchez, dono do EMS, não aceitam ficar sob as asas dos Depieri, Siaulys e Baptista, acionistas da Aché. Têm levantado questionamentos a própria capacidade do Aché de incorporar outras companhias. A empresa teria passado por maus bocados para digerir a aquisição da Biosintética, em 2005. Nos bastidores da negociação, todos tentam puxar a brasa para sua sardinha e desqualificar os concorrentes. A Eurofarma argumenta ser o consolidador natural por se encaixar em uma das ideias precípuas do BNDES: abrir caminho para a compra de empresas no exterior. A família Billi incorporou recentemente uma fábrica na Argentina e garante estar com duas aquisições engatilhadas, uma na Colômbia e outra no Uruguai. Ressalte-se ainda que, entre os acionistas da Eurofarma, há resistência ao modelo apresentado pelo BNDES. Seu maior crítico é Maurízio Billi, principal dirigente da companhia. Do lado da EMS, Carlos Sanchéz quer fazer valer a liderança da empresa, maior laboratório nacional, com receita de R$ 2,4 bilhões. Ele garante ao BNDES ter R$ 800 milhões para investir em aquisições. No entanto, a EMS está longe de ser o nome dos sonhos do banco e dos outros laboratórios para capitanear o projeto de fusão. Há forte oposição a Carlos Sanchéz, que, nos últimos anos, esteve envolvido em episódios rumorosos. No início da década, em meio a uma disputa comercial com a Novartis, a EMS foi acusada de falsificar documentos para agilizar a aprovação de medicamentos. Na mesma ocasião, surgiram denúncias de que Sanchez teria se aproximado de Jorge Negri, irmão do então ministro da Saúde, Barjas Negri, com o objetivo de obter favorecimento na concessão de licenças para a produção de genéricos. Enquanto os Siaulys, Baptista, Depieri, Billi e Sanchez se engalfinham, periga todos eles acabarem engolidos pelo furacão João Alves de Queiroz Filho, o “Júnior”. Nas últimas semanas, a Hypermarcas surgiu como forte candidato a cavalo vencedor na indústria farmacêutica nacional. De acordo com um executivo que participa das negociações, o próprio BNDES estaria alimentando o noticiário com informações sobre sua possível entrada no capital da empresa de “Júnior”. Noves fora um certo jogo de cena no vazamento, que teria como objetivo pressionar Aché, Eurofarma e EMS, existe uma corrente dentro do banco favorável a associação com a Hypermarcas. A própria decisão da companhia de fazer uma emissão de ações estaria relacionada a hipótese de ela ser escolhida pelo BNDES como “consolidadora oficial” do setor.
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