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A transubstanciação de um homem chamado bigode

  • 27/05/2015
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O ministro chefe do Gabinete Civil, Aloizio Mercadante, tornou-se um ectoplasma. Simplesmente, deixou de existir. Seu moustache, o perfil esguio e o estilo insípido foram diluídos nas formas predominantes da presidente Dilma Rousseff. Os dois tornaram-se um ente uno e indivisível. Portanto, é bom que se suspeite caso alguém afirme, por qualquer motivo, “a opinião de Mercadante”. O ministro até pensa com seus botões, inclusive porque acha que entende tudo de tudo. Mas não expressa o que matuta. A opinião de Mercadante é a opinião de Dilma. Digamos que essa foi a única forma que ele percebeu para se manter no círculo íntimo do poder. Expulso da articulação política, da formulação econômica, do papel de regra três de ministro da Fazenda, das negociações com os empresários e das principais lideranças do PT, não fosse Dilma, Mercadante se encontraria moribundo. Entre o degredo e o papel de papagaio de pirata e carteiro dos recados presidenciais, o aposentado cardeal das esquerdas não teve a menor dúvida: simplesmente deixou de sê-lo e tornou-se um novo ser. Portanto, quando o ministro se encontra com o vice-presidente, Michel Temer, para acordos políticos, não acredite no que vê ou lê. É Dilma quem está presente. Não se iluda também se o ministro surge com sua fisionomia de Fred Mercury sentado ao lado de Joaquim Levy para emprestar o apoio do Palácio do Planalto ao ajuste fiscal. Não é Mercadante quem está lá ou fala as palavras dúbias em relação a  política econômica, mas, sim, o seu novo self, o “Dilmadante”. Essa criatura palaciana seria a responsável pela bênção a  nomeação do destemido Levy, ao contrário da versão que atribui a paternidade do ministro da Fazenda ao grande timoneiro de voz roufenha e bigode viril. O ex-presidente, aliás, é visto hoje como uma ameaça por “Dilmadante”. Lula não tem o ministro da Casa Civil como inimigo maiúsculo, mas como um detestável estorvo encrustado na carapaça da presidente feito um mexilhão. Os conhecedores mais íntimos do Planalto acreditam piamente na divindade criada pelos dois seres de passado equidistante. Basta ver que Mercadante se materializa como por mágica no gabinete da presidente. Sim, ele é o único a ter acesso direto a  sala de Dilma por um elevador com entrada única e bem próxima a  sua mesa. Algumas raras vezes, Mercadante ousa se separar de Dilma, momentos de péssima lembrança, tal quando convenceu a presidente a apoiar uma iniciativa do ministro Gilberto Kassab e do então ministro da Educação Cid Gomes para criar um novo partido, atraindo parlamentares do PMDB. Tornou-se o Judas Iscariotes da principal sigla da base aliada. Daí em diante mergulhou na imensidão da presidente, aparentemente para nunca mais sair. Se não fosse Dilma, Mercadante seria ora pajem, ora mímico. Muito melhor a entidade “Dilmadante”.

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