BNDES e GP avançam na desconstrução da Lácteos Brasil

  • 9/10/2014
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Por que insistir em um negócio que, na prática, já passou desta para pior? Essa é a pergunta que ricocheteia na cabeça dos dirigentes do BNDES, dos gestores da GP Investimentos e do empresário gaúcho Wilson Zanatta, controladores da Lácteos Brasil (LBR). Entre tentar soerguer a companhia e resgatar o projeto de criação do grande grupo brasileiro do setor – uma tarefa com baixa perspectiva de êxito – ou voltar no tempo e desfazer um equívoco estratégico, o trio pende para a segunda opção. Os acionistas da LBR estariam aguardando apenas a conclusão da venda de 14 unidades industriais para dar a partida no processo de desmanche da empresa – ressalte-se bem, ao menos no atual modelo societário. Cabe destacar que tanto a GP quanto o BNDES fizeram o write off do investimento – o banco de fomento, por exemplo, lançou em balanço perdas de R$ 657 milhões. Ou seja: do ponto de vista contábil, ambos já viraram a página da LBR, aproximando a mão da maçaneta da porta de saída. Ainda assim, não é fácil girá-la. O que está em pauta não é a extinção da LBR, mas, digamos assim, sua adequação a uma nova realidade. Com o fim do modelo tripartite e a venda de ativos, a tão decantada “maior fabricante de laticínios do Brasil” sairia de cena para dar lugar a uma empresa bem mais modesta. É o que as circunstâncias permitem a uma companhia em recuperação judicial, a s voltas com uma dívida de R$ 1 bilhão, perda de faturamento, dificuldades para obter financiamento e, acima de tudo, esmigalhada pelo descrédito de seus dois principais acionistas. Recentemente, o próprio chefe do departamento de agroindústria do BNDES, Jaldir Lima, chegou a declarar textualmente que o aporte na LBR foi uma “falha de diagnóstico” do banco. Imaginem, então, o que os executivos e investidores da GP devem pensar sobre o assunto. A questão fulcral é amarrar um novo formato que contemple os interesses dos credores e do próprio Wilson Zanatta, homem do ramo e candidato mais do que natural a ficar com os ativos remanescentes da companhia. A venda das 14 fábricas – a maioria para a francesa Lactalis – deverá gerar algo em torno de R$ 530 milhões. Essa cifra cobrirá o pagamento de boa parte do passivo. O acordo firmado com os credores contempla um significativo deságio da dívida – no caso dos empréstimos bancários, os descontos chegam a 80%. A partir daí, caberia a Zanatta recomeçar, se não do zero, a partir das sete fábricas remanescentes. Certamente terá sobre a mesa uma operação menor do que a Laticínio Bom Gosto, companhia que ele fundou e, misturada aos ativos da GP, deu origem a  LBR. Mas Zanatta prefere nem se lembrar disso.

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