Santander pode cancelar recompra de ações

  • 3/06/2014
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Os acionistas que queriam se livrar do pouco rentável Santander Brasil, aceitando a oferta do banco para a recompra das ações a um preço nanico, podem colocar suas barbas de molho. Os espanhóis estariam prestes a suspender a operação, pouco mais de um mês após o seu anúncio. Um acionista minoritário, que já formalizou sua decisão de não aceitar o valor aviltado, informou ao RR a intenção do banco em cancelar a oferta, manobra que transformaria um provável fracasso em um soberano recuo estratégico. Nos últimos dias, diversos fundos internacionais fizeram chegar ao comando do grupo, em Madri, sua recusa ao valor ofertado pelos ibéricos: R$ 15,31 por ação. Muitos destes investidores mantêm sua posição no Santander Brasil desde o IPO do banco, em 2009, quando pagaram R$ 23,50 pelo papel. Ou seja: para esta turma, entregar as ações ao preço estipulado pelos espanhóis significaria realizar um prejuízo de quase 40% sobre o valor original do investimento. Questionado pelo RR sobre a suspensão da oferta, o Santander não foi objetivo em sua resposta. Afirmou apenas que “a adesão é voluntária” e a “operação depende das autorizações legais e societárias exigíveis e deverá estar concluída até outubro deste ano”. O fato é que existem fortes indícios de que o banco deverá cancelar a oferta de recompra de ações. A instituição, ressalte- se, não tem adotado qualquer postura incompatível com os ritos e os procedimentos que precedem operações desta natureza no mercado de capitais, segundo a própria CVM. Mas encontrou uma fórmula para fazer do seu quiet period uma talk season. Há evidências de que a ordem no banco é abusar do marketing institucional, um caminho que permite driblar o que pode ou não ser dito sem deslocar as expectativas de mercado. Esta nova conduta é personificada pelo próprio presidente do Santander Brasil, Jesús Zabalza. O executivo parece ter vestido o figurino de jogral. Nos últimos dias, vem entoando publicamente uma série de planos, promessas e intenções. Uma regra imutável em operações desta natureza é que os compradores não podem pedalar o valor de mercado das ações para aumentar sua diferença em relação ao preço ofertado. Seria pura tontearia ou masoquismo. Diante do recente show off promovido pelo Santander, o mais provável mesmo é que os espanhóis não queiram realmente recomprar as ações. Entre as tantas metas e compromissos soprados por Zabalza, o que mais chama a atenção é a garantia de que qualquer investimento ou operação no Brasil só será executada caso haja perspectivas firmes de um retorno de, no mínimo, 20%. Como assim, se o próprio Santander não consegue cumprir esta nota de corte? Nos últimos cinco anos, a rentabilidade da filial brasileira não chegou sequer perto deste patamar. No período, a média de lucro sobre o patrimônio foi de 13%. No ano passado, nem isso: parou nos 11%. Para efeito de comparação, em 2013 os demais integrantes do top five da banca privada (Itaú, Bradesco, HSBC e Safra) registraram, em média, uma rentabilidade de 15%. É importante ressaltar que, expurgando-se o HSBC, esse índice seria de 18%. Se for para confrontar o Santander com os dois maiores bancos privados brasileiros, aí, então, vira covardia. Pegandose os últimos cinco exercícios, o lucro médio de Itaú e Bradesco beirou os 20% ao ano.

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