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Dois cafezinhos sobre o BNDES

  • 8/10/2013
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Faz quase duas décadas que o economista Arthur Candal produziu para a Associação Brasileira da Indústria Química um avassalador estudo prevendo que a africanização da indústria brasileira já começara e era irreversível. Candal tinha uma ponte com o então ministro da Fazenda, Pedro Malan, a quem salvou de uma perseguição do Dops ao passar uma noite inteira rodando de carro pela cidade. Mas esse nunca foi um assunto que o lendário economista fosse levar a Malan como um bilhete premiado do passado em troca de dois dedos de prosa sobre suas reflexões. Ao que se lembre, o governo só o ouviu durante o regime militar, por meio de João Paulo dos Reis Velloso, no Ipea. Alguns anos após Candal ter cometido o visionário paper, o economista Edmar Bacha começou a desenhar sua tese de que o BNDES é um desserviço completo a  indústria nacional, pois sua presença inviabiliza a consolidação de um sistema financeiro privado de empréstimos de longo prazo e, por outro, exige uma política de juros mais elevados para contrapor aos juros subsidiados da TJLP. Certa vez, Candal esbarrou com Bacha no Aeroporto Santos Dumont. Cumprimentaram- se com um meneio de cabeças. Para “Arthur, o petroquímico” Bacha era uma diva da macroeconomia a  procura de plateia. Bacha devia achar aquela encurvada figura meio amalucada, totalmente distante do seu estilo fashion da PUC-RJ. O fato é que Candal berrava até ficar rubro por um ajuste fiscal de 9% a 10% da dívida bruta como a única forma de evitar que a indústria sucumbisse. Uma violência! O seu BNDES, protagonista da política industrial, seria diferente. Ficaria voltado a  substituição de importações de setores com maior valor agregado, exemplo da química e petroquímica. Candal se foi, Antônio Barros de Castro, também, e do trio de industrialistas sobrou Luciano Coutinho, defendendo bravamente a bandeira do BNDES. Mas Luciano é outra história. De lá para cá, Bacha redescobriu a indústria e colocou-a no centro do seu novo Plano Real, que conjugaria aperto de mão de obra, liberação das importações, política fiscal austera, taxas de juros mais altas e, se possível, um míssil jogado em cima do BNDES. Se ele e Arthur Candal tivessem a oportunidade de se encontrar novamente, ainda não seria dessa vez que apertariam as mãos. Mas talvez topassem conversar em torno da ideia de fazer do banco uma agência de desenvolvimento do programa de concessões. O BNDES funcionaria como uma espécie de garantidor de última instância das operações com debêntures das empresas investidoras no setor de infraestrutura, leia-se, em grande maioria, concessões de serviços públicos.

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