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Guido Mantega já não esconde de ninguém que vai desafinar ainda mais o coro dos descontentes. Voltam em escala hiperbolizada as chamadas medidas macroprudenciais, dessa vez focadas no calendário eleitoral que se aproxima a galope de cavalo árabe. Para conter as importações, segurando o déficit de transações correntes e amainando a fúria do câmbio, Mantega já prometeu apor sua mão pesada sobre as tarifas e, com a outra manopla, dar um tapa em operações mais rústicas, tais como a estratégia de liberação a conta-gotas das guias de importação. A contenção das vendas externas seria feita por seleção, ou seja, aqueles setores que precisam desesperadamente das importações como fator de produtividade e competição teriam prioridade. Ressalte-se que a economia ficará toda dividida, disforme como um “pé de galinha redistributivo”. Por esse modelo “prudencial”, alguns terão vantagens sobre outros, com os favorecimentos, é claro, decididos pela burocracia da Fazenda. No segmento de hedge financeiro, o governo gastou um cartucho de bala calibre 12, surpreendendo com farta munição, leia-se as operações de swap diárias com valores expressivos até para a ganância do mercado. Com a medida, poupa o uso das reservas cambiais no chamado dólar pronto ou a vista. Um detalhe quanto a s reservas: em um ambiente de frenesi, qualquer redução, ainda que não expressiva, do estoque de divisas cambiais, pode ser interpretado como fragilidade ou mesmo ataque especulativo. Com o luxuoso apoio dos analistas que praticam o terrorismo de mercado, um punhado de dólares pode ser o que falta para transbordar o humor das agências de rating. Mantega morre de medo de que as reservas caiam. O desafio do governo é babilônico. Ele tem de elevar as taxa básica de juros, pois a inflação é o maior inimigo do calendário eleitoral de 2014, sem contaminar a atividade econômica. Ao mesmo tempo, precisa acertar a sintonia para que a alta dos juros permita estimular os mecanismos de arbitragem entre as taxas externas e internas, capazes de aumentar o fluxo de hot money e segurar o câmbio. Tudo isso sem contar com a contribuição do fiscal – aliás, já se dá como perdida a possibilidade de qualquer recuo dos gastos governamentais neste ano e, principalmente, em 2014. O Tesouro Nacional é a pedra de toque da salvação da economia de curto prazo e combustível para eleição de Dilma Rousseff. Segundo Mantega, a dívida bruta ainda aguenta subir um degrau, isto porque o governo dá como certa a permissão do FMI para a mudança no critério de contabilidade do débito. Do Tesouro, via aumento de capital da Petrobras, poderia vir o gás para compensar o atraso no aumento dos combustíveis. Também do Tesouro viria mais um repasse de verbas injetadas no BNDES – Luciano Coutinho já disse que aguarda a complementação orçamentária. Guido vai usar todo o seu arsenal de heterodoxias, e seus adversários que morram de raiva. Com essas medidas, ele catapulta um eventual retorno ao tripé da sustentabilidade – câmbio livre, cumprimento do superávit primário e meta da inflação – para depois das eleições. Mas o momento é de retranca, canelada e bola para o mato, que o jogo é de campeonato.
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