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Acervo RR
Difícil precisar onde termina a decisão estratégica e começam as questões pessoais e uma certa pitada de vendetta. O fato é que a Orygen Biotecnologia, formada a partir da associação entre Eurofarma, Biolab e Cristália, promete usar de alta dosagem financeira para comprar o controle da Libbs. Por alta dosagem financeira, entenda-se o apoio do BNDES, idealizador e padrinho do superlaboratório nacional. De acordo com fontes do setor, a Libbs estaria avaliada em cerca de R$ 500 milhões. Controlada pelo empresário Alcebíades de Mendonça Athayde, a companhia participou de todas as negociações e esteve com um pé na Orygen até as vésperas do fechamento do acordo. Sua saída teria se dado em decorrência de desentendimentos em relação a participação societária de cada empresa e a partilha de cargos da nova companhia. Procuradas, Orygen e Libbs negaram a negociação. Nesta bula de interesses cruzados e letras miúdas, há uma pergunta que não quer calar: por que Alcebíades Athayde aceitaria vender a Libbs justamente para a Orygen Biotecnologia após ter tido, e rechaçado, a oportunidade de ser acionista da nova companhia? A realidade vista pelo microscópio da Eurofarma, do Biolab e do Cristália não é exatamente uma linha reta. Aos olhos do trio, a recusa de Athayde estaria eivada de segundas intenções. O empresário teria desistido de integrar a nova empresa já pensando na possibilidade de dourar a pílula, valorizar seu laboratório e vendê-lo em condições extremamente vantajosas. E por que os acionistas do Orygen aceitariam tal manobra? Aí sim entram a racionalidade corporativa e o pensamento estratégico. A aquisição seria um importante movimento de defesa, com o objetivo de impedir a associação da Libbs com um grande grupo internacional. Este enredo é tão desconcertante quanto o vai e vem de seus protagonistas. Que o diga o BNDES, que, mesmo sendo o BNDES, penou até conseguir unir todas as pontas da nova companhia. Assim como Alcebíades Athayde, os demais personagens da operação – Ogari Pacheco (Cristália), Maurizio Billi (Eurofarma) e os irmãos Cleiton e Paulo Marques (donos do Biolab) – são conhecidos no setor pelo absolutismo com que dirigem seus laboratórios e por suas idiossincrasias. O que se diz no BNDES é que o trio de acionistas da Orygen não engoliu a postura de Athayde, que, mesmo depois de uma série de exigências atendidas, deu para trás e quase colocou em risco a própria criação do super-laboratório. Daí a percepção de que, além da importância per si do negócio – o Libbs é uma das empresas nacionais mais fortes da área de biotecnologia e fatura por ano cerca de R$ 600 milhões -, alguns miligramas de vingança também movem a investida da tríade Eurofarma/Cristália/Biolab.
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