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Acervo RR
Um dos mais influentes conselheiros de Dilma Rousseff e espécie de regente das relações entre o governo e o empresariado, Jorge Gerdau tornou-se protagonista de uma ópera encenada em três atos, com andamentos bem distintos. Nesta montagem, Gerdau vem sendo forçosamente conduzido pela baqueta dos fatos. A orquestra é que rege o maestro. O ritmo da música varia em função do êxito ou do insucesso do empresário em suas variadas missões. A seguir, o libreto de um espetáculo repleto de idas e vindas: – PRIMEIRO ATO (ALLEGRO): A primavera do convencimento. Logo após o anúncio do novo plano de concessões públicas, Jorge Gerdau apresentou a Dilma Rousseff uma proposta para despertar de vez o ânimo do empresariado. O projeto em questão previa a profissionalização da gestão e a abertura de capital de um pacotão de organismos públicos, que estão na fronteira entre autarquias e empresas estatais. A lista de candidatos incluía, entre outros nomes, Embrapa, Dataprev, Infrapar, nova subsidiária da Infraero, e até o Cenpes, braço de pesquisa da Petrobras, além das diversas autoridades portuárias do país (Cias. Docas). A principal justificativa para o IPO seria não apenas o aumento, per si, do fôlego financeiro destas instituições, mas também a possibilidade de usá-las como indutoras de investimentos em seus setores. O governo teria participação minoritária no capital – nada a que ele já não esteja habituado, em negócios no sistema bancário, no mercado de seguros ou em energia elétrica. Dilma Rousseff encantou-se pela medida e chegou a iniciar estudos para a sua implantação. O empresariado já estava conquistado. Mas, no meio da apresentação, a orquestra mudou seu andamento. – SEGUNDO ATO (MODERATO): Após uma sucessão de acordes maviosos, quando Jorge Gerdau parecia perto de emplacar um grande programa hiperliberal, o ritmo da orquestra ficou mais lento. Aos ouvidos do empresário, o andamento adquiriu um tom melancólico. Após o encanto inicial, a própria Dilma deu meia-volta, volver na proposta. O governo passou a ver mais óbices do que vantagens nos planos de Gerdau. A abertura de capital em série de empresas com tantas peculiaridades e estruturas distintas foi considerada uma ação extremamente complexa e praticamente inviável, devido aos entraves legais e burocráticos. Sem o IPO, o governo deverá levar adiante apenas o processo de profissionalização administrativa. A medida vai instituir a figura da meritocracia em diversas companhias públicas. Diante das circunstâncias, não deixa de ser uma vitória, mas pela metade. – TERCEIRO ATO (GRAVISSIMO): A música fica extremamente lenta, fechada, em um tom quase sombrio. É o anticlímax. Neste ato, Gerdau entrega-se a uma missão bem mais espinhosa. Ele tem se desdobrado para aparar arestas entre o governo e o empresariado. O motivo são as medidas anunciadas pela equipe econômica, vistas como quebra de contrato. Entram neste cesto a redução das tarifas de energia e o feérico turnover de benefícios fiscais que, na prática, vai gerar transferência de renda de um setor para o outro. Estas decisões provocaram uma onda de desconfiança em relação a ambiência regulatória e a capacidade do governo de cumprir contratos. Por ora, nada de grand finale, nem sequer de finale. É hora de esperar pela próxima partitura. O violoncelo chora sozinho no palco.
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