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Acervo RR
O processo de consolidação da indústria sucroalcooleira chegou a um capítulo decisivo, capaz de alterar substancialmente o quadro de forças do setor. Há uma disputa tácita entre dois players por um dos maiores e mais cobiçados ativos do mercado: a Copersucar. Os contendores em questão são a BP, gigante mundial da área de combustíveis, e a Ipiranga, leia-se Grupo Ultra. O conglomerado britânico saiu na frente. Já manteve conversações preliminares com os acionistas da empresa paulista. A Copersucar é tratada pelos ingleses como o último grande ativo de controle nacional capaz de dar escala e musculatura a s suas operações em etanol no país. Juntas, as duas companhias criariam a maior processadora de cana-de-açúcar do país. BP e Copersucar somam capacidade de moagem da ordem de 128 milhões de toneladas por safra, praticamente o dobro da produção da Raízen, leia-se Cosan e Shell. A nova empresa teria um faturamento de quase R$ 10 bilhões por ano. Apesar de a BP ter largado na frente, a Ipiranga não pode, em hipótese alguma, ser considerada uma carta fora do baralho. A empresa conta com um potente anabolizante para acelerar suas passadas. O BNDES vê com bons olhos a possibilidade de criação de um grupo nacional puro-sangue com operações integradas na produção de etanol e na distribuição de combustíveis. Há no governo uma crescente insatisfação com o avanço do capital estrangeiro na produção de etanol. O poder de grupos internacionais na formação de estoques e na fixação dos preços do álcool é cada vez maior e só tende a crescer. A própria BP foi responsável pelo lance mais recente. Há cerca de dez dias, fechou a compra das participações da Brasil Ecodiesel e da Louis Dreyfuss na Usina Tropical, assumindo integralmente o controle da empresa. Aos olhos do governo, o BNDES pode e deve ser usado como antídoto contra a invasão dos grupos estrangeiros no setor. O apoio do banco – seja por meio de financiamento, seja por meio de uma participação societária no negócio – se tornaria um facilitador para a fusão entre a Copersucar e a Ipiranga. A associação daria origem a um grupo capaz de rivalizar com a Raízen – vista pelo governo como uma espécie de centauro do etanol, metade brasileira e metade estrangeira. A empresa resultante da fusão entre Copersucar e Ipiranga teria uma capacidade de moagem de 115 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano e uma rede de distribuição de combustíveis com mais de 5,5 mil postos. Para efeito de comparação, a Raízen deverá processar cerca de 58 milhões de toneladas de cana na safra 2011/2012 e tem cerca de 4,5 mil pontos de venda de combustíveis. No entanto, há ervas daninhas e gafanhotos no caminho tanto da Ipiranga quanto da BP. Se, por um lado, a associação com a Copersucar significa um bônus em termos de estratégia, ocupação de mercado e aumento da produção, por outro há o ônus de uma difícil convivência societária. A própria estrutura de controle da empresa é um complicador para uma operação deste porte. São quase 50 usinas em sistema de cooperativa, cada uma com seus interesses. Entre as usinas de pequeno e médio portes, há um grande e justificado receio de que a associação com outro grande grupo signifique a diluição de sua participação tanto na composição acionária quanto na gestão.
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