Finanças

Itaú está cumprindo à risca as exigências ambientais para concessão de crédito?

  • 24/01/2025
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A política de crédito vinculada a compromissos ambientais do Itaú Unibanco está sendo contestada por alguns analistas de instituições financeiras. As especulações são de que há mais números vazios do que uma realidade construtiva na propaganda do banco. Nos últimos dias, circularam rumores de que o Itaú fará um estardalhaço em torno da sua atuação ambiental por ocasião da COP30, que será realizada em Belém no próximo mês de novembro.

A iniciativa, do ponto de vista do marketing e dos bons números da instituição financeira nessa área, parece correta. Mas a profecia de fontes do mercado é que não há números tão bons assim quanto supõe a vã filosofia dos dados bancários já jogados. O Itaú se gaba de ter concedido aproximadamente R$ 430 bilhões em crédito sustentável entre 2019 e 2024, acima da meta estabelecida para o período, de R$ 400 bilhões. E assegura que esse valor chegará a R$ 1 trilhão até 2030.

A princípio, as dúvidas compactuadas com o RR causam certa estranheza. Como se não bastassem as cifras divulgadas pelo Itaú, o banco consta tanto do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 quanto do Dow Jones Sustainability World Index (DJSI World). Trata-se de dois importantes avalistas da performance da instituição na área ambiental. Bem, o mercado, por vezes, tem má índole.

Os Iagos financeiros estão sempre à procura de um Othelo, com um poder de envenenamento que não deve ser desprezado. O fato é que, entre analistas financeiros, começa a se espalhar a percepção de que o Itaú afrouxou as regras para concessão de crédito, flexibilizando suas exigências relacionadas a normas ambientais. Talvez seja a ânsia de cumprir a ousada meta ; talvez falte alinhamento interno. Ou pode ser que a lupa da auditoria não alcance alguns detalhes.

Os relatórios sociais das empresas são e serão cada vez mais um documento validador de boas práticas. Muito provavelmente em um mundo no qual as operações de greenwashing serão maiores do que o número de companhias realmente comprometidas com o acrônimo ESG. É difícil imaginar o banco dos Setúbal soltando números e metas irreais, mas muita instituição financeira internacional bem maior do que o Itaú já fez suas bobagens nessa área.

O enredo acima é apenas um pequeno trecho do script. As duas fontes que relataram ao RR as dúvidas em relação ao bom mocismo ambiental do Itaú – uma delas com notória capacidade de disseminação de informações no mercado – escalaram o assunto para o andar de cima da instituição. Afirmam que o disse me disse não apenas já chegou ao Itaú como subiu para o conhecimento dos grandes acionistas. Entre os controladores, já haveria um receio de que eventuais questionamentos à política de crédito do Itaú vinculada a compromissos ambientais possam gerar danos à reputação de um banco que se vende como líder dessa área no Brasil.

Os próprios acionistas da instituição sempre fizeram questão de associar sua imagem à agenda ESG. De Roberto Setubal – líder do banco, diga-se o que se disser – a Candido Bracher, ex-CEO e acionista minoritário, todos assinam os principais manifestos pró-ambiente do empresariado. Para não falar de nomes que estão fora da gestão do banco. Neca Setubal, por exemplo, liderou a criação de um fundo para investimentos na Amazônia. Milu Villela, por sua vez, tem uma longa e notável trajetória ligada à filantropia.

Portanto, qualquer percepção de relaxamento em relação a metas de ordem ambiental da parte do Itaú, ou mesmo do comportamento ESG, por menor que seja, cala fundo entre seus controladores.

Até hoje, por exemplo, ainda causa incômodo aos Setúbal um episódio ocorrido em 2023. Na ocasião vazou o áudio de uma suposta reunião interna em que o então coordenador de estratégia ESG do banco, Guilherme Treu, relatava ter sido pressionado por Pedro Barros, à época diretor de agronegócio da instituição, para liberar um financiamento de R$ 25 milhões à AgroSB, do banqueiro Daniel Dantas. O caso nunca foi devidamente esclarecido. 

Consultado pelo RR, o Itaú reafirmou a meta de R$ 1 trilhão até 2030, ressaltando que os recursos serão direcionados para “setores estratégicos como energia renovável, saúde e educação, produção de alimentos, infraestrutura sustentável e obras de infraestrutura”. Segundo a instituição, a cifra não é destinada apenas “na forma de financiamentos, mas também de outros produtos que reforçam o engajamento do banco com os objetivos de transição dos seus clientes em direção a uma economia de baixo carbono e a promoção de um futuro mais sustentável”. O Itaú afirma ainda que “para serem classificadas como parte desse compromisso, as iniciativas passam por avaliações incluindo critérios que vão muito além do cumprimento da legislação, considerando também as melhores práticas de mercado e passando pela avaliação de órgãos independentes”. O banco assegura também que “é possível encontrar todas essas informações, de forma detalhada nos Relatórios ESG e Climático.

#COP30 #Itaú

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