Buscar
Destaque
Em meio a suspeições e seguidos escândalos – de manipulação de resultados a crimes financeiros -, o mercado de apostas esportivas no Brasil está na iminência de um frenético processo de consolidação. Um movimento sob medida para aumentar a fortuna dos primeiros grandes milionários do jogo no país. É o caso, por exemplo, de Ernildo Junior, da Paraíba, e Darwin Henrique da Silva Filho, de Pernambuco, fundadores, respectivamente, da PixBet e da Esportes da Sorte.
As duas plataformas de bets made in Brazil vêm sendo assediadas por grandes grupos internacionais. O mesmo se aplica à Lampions Bet, que concentra suas operações no Nordeste – como sugere a inusitada homenagem a Virgulino Ferreira. Do outro lado da mesa, segundo o RR apurou, estão a Entain, sediada na Irlanda e dona da bwin; o Betsson Group, de Malta, controlador, entre outros negócios, da Bet365 e NetBet; e a 888 Holdings, que reúne um vasto portfólio de cassinos online e sites de apostas, como o 888sport, comandados a partir do seu quartel-general em Gibraltar.
Todos são movidos por um duplo objetivo: ganhar market share rapidamente por meio de aquisições e tirar de circulação plataformas locais, que, mesmo com a chegada de grandes players internacionais ao Brasil, conseguem abocanhar uma fatia considerável do bolo. Um bolo, diga-se de passagem, cheio de fermento. Entre janeiro e agosto deste ano, os brasileiros gastaram cerca de R$ 20 bilhões com apostas esportivas, contabilizando-se apenas as transferências via PIX – segundo estimativa anunciada pelo Banco Central nesta semana. O RR fez contato com PixBet, Esportes da Sorte e Lampions Bet, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
O jogo da consolidação já começou. Há cerca de duas semanas, a Flutter, também com sede na Irlanda, anunciou a compra da brasileira NSX e a consequente fusão da Betnacional com a Betfair, que já era sua controlada. A operação deu origem a uma empresa da ordem de US$ 1 bilhão, por ora o maior M&A realizado no ainda incipiente mercado de bets esportivas no país. O que se diz à boca miúda no setor é que há outras duas negociações já engatilhadas envolvendo plataformas brasileiras, que deverão ser fechadas ainda neste ano.
Trata-se de um inexorável processo de seleção natural. Os sites estrangeiros chegam ao Brasil com uma montanha de dinheiro para “eliminar” a concorrência local. Há até quem diga que os sites brasileiros foram criados para isso mesmo: serem engolidos pelos gigantes internacionais e encher o bolso dos seus criadores. Uma aposta, ao que parece, certeira. Este é o momento de aproveitar o boom no preço dos ativos, decorrente da regulamentação das apostas no Brasil.
A questão é que este não é um setor qualquer da economia. Trata-se de um segmento repleto de peculiaridades, mais afeito ao noticiário policial do que ao de negócios. A onda de aquisições que se anuncia traz um desafio extra ao Ministério da Fazenda, ao qual está vinculada a Secretaria de Prêmios e Apostas, aos órgãos de controle financeiro e à própria Justiça. Como evitar que a transferência de ativos sirva de biombo para encobrir operações pouco ortodoxas?
Isso tratando-se de um setor sabidamente caracterizado por baixíssima transparência societária, com um elevado nível de ocultação dos reais investidores por trás das plataformas, empresas sediadas em paraísos fiscais, sonegação de impostos e suspeitas de fraudes, lavagem de dinheiro, apostas ilegais, envolvimento com esquemas de pirâmide etc. Algumas das maiores plataformas brasileiras são alvo, neste momento, de investigações e pesadas acusações.
A própria Esportes da Sorte está no olho do furacão. Darwin Henrique da Silva Filho ficou preso entre 5 e 19 de setembro. Investigado no âmbito da Operação Integration, da Polícia Civil de Pernambuco, ele é acusado de integrar um esquema de lavagem de dinheiro. Trata-se da mesma suspeita que pesa sobre o casal José André da Rocha Neto e Aislia Henriques Rocha, donos de outro site de apostas brasileiro, o Vai de Bet, e sobre o cantor Gusttavo Lima, acusado pela polícia pernambucana de ser sócio oculto da empresa.
Todos os direitos reservados 1966-2024.