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A grave crise da Enel em São Paulo tem alimentado diversas conjecturas em relação ao futuro do grupo no Brasil. Algumas com maior voltagem. Nos últimos dias, circula na corrente elétrica do setor a informação de que os italianos avaliam uma reorganização de seus negócios no país. As mudanças atingiriam suas duas principais áreas de atuação.
No segmento de geração, o caminho aventado seria a busca de um sócio para a Enel Green Power, seu braço de energia renovável. Trata-se de um portfólio com 94 usinas hidrelétricas, eólicas e solares, além de outros 16 projetos em desenvolvimento. No entanto, os movimentos mais agudos estariam reservados para o setor de distribuição, justamente o calcanhar de aquiles da companhia no Brasil.
E que movimentos seriam esses? De um lado, a alienação da Enel Rio, a antiga Ampla; do outro, a retomada do processo de venda da Enel Ceará, ex-Coelce, suspenso em novembro do ano passado. Procurada, a Enel não quis se pronunciar.
O enredo tem gigawatts de lógica. O grupo passaria a concentrar grande parte da sua energia, metafórica e literalmente, em seu maior e, ao mesmo tempo, mais problemático negócio no Brasil: a Enel São Paulo. Com quase R$ 20 bilhões em receita, a distribuidora paulista responde por quase metade do faturamento total do conglomerado no Brasil.
É também a operação mais lucrativa dos italianos no país. Às vezes, não se pode ter tudo. E talvez a Enel esteja exatamente no momento de fazer escolhas e renúncias no mercado brasileiro. A venda de parte da Enel Green Power e a negociação das distribuidoras do Rio e do Ceará dariam ao grupo fôlego extra e permitiriam destinar a São Paulo a maior parte dos investimentos já anunciados no país, de R$ 18 bilhões.
A essa altura, seria quase um “seguro concessão”, uma forma de a Enel debelar os riscos regulatórios e políticos que cercam a distribuidora em razão dos seguidos apagões na capital paulista.
A Enel Rio é um ativo considerado de mais fácil liquidez, digamos assim. Está encravada em um mercado importante – atende a 66 municípios do estado do Rio de Janeiro, ou mais de 2,5 milhões de consumidores. No caso da Enel Ceará, há um fio solto.
A venda da distribuidora está condicionada a uma negociação política com o governo federal para a renovação antecipada da concessão, que vence em 2028. Ninguém vai se aventurar a comprar uma empresa cujo contrato expira logo ali na esquina, em pouco menos de quatro anos.
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