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Levy tampa com o dedo o dique das reservas

  • 9/01/2015
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Tudo que é sólido se desmancha no ar, inclusive as decantadas reservas internacionais brasileiras. O ano de 2015 começa com uma pulga – uma pulguinha, é bem verdade – atrás da orelha das autoridades monetárias. O Brasil conta com um lastro cambial invejável de US$ 375 bilhões, que representa quase 400 vezes o saldo comercial de junho de 2014, o maior superávit mensal dos últimos três anos. Mas serão reservas líquidas? E a percepção do mercado é de que elas são firmes? Por dever e profissão de fé, o BC aposta na sua solidez inquebrantável. E prefere não discutir o contraditório. Mas o advento do “petrolão” e o uso maciço de swaps cambiais, para não citar a retirada dos incentivos a  liquidez pelo FED, o fraco desempenho da economia chinesa e o apocalipse russo, parecem ter cindido a convicção anterior. A começar pela Petrobras, que, embora ainda não tenha divulgado o balanço do terceiro trimestre, deverá anunciar uma dívida líquida próxima dos US$ 100 bilhões. Até que acerte suas contas, a Petrobras terá de viver do seu próprio caixa. A última linha de resistência do seu mega-débito é o governo brasileiro. Portanto, sem o balanço auditado e com o default nos calcanhares, os “covenants” (limites de segurança) exigirão pagamento imediato. Pode-se afirmar que dificilmente a situação da estatal chegará a um ponto em que as exigências de antecipação de pagamentos atingirão o total da dívida líquida, pero que lo riesgo hay, hay. Com relação a  exposição em operações de swap, o valor já alcançou os US$ 100 bilhões, sem que o dólar tenha se amansado. Pelo contrário: a moeda embica para o patamar de R$ 3,00. Há um bate-cabeça entre o giro dos swaps e a elevação da taxa de juros Selic, que virá, queiramos ou não. Os juros altos, a priori, levariam a operações de carry trade. Estas, por sua vez, trariam dólares que esterilizariam a pressão sobre o câmbio. Com a moeda norte-americana sinalizando para baixo e os juros para cima, em princípio tudo indica que o investidor ficaria para aproveitar a rentabilidade oferecida pelo Tesouro. Mas digamos que a turbulência interna aumente, que os juros norte-americanos surpreendam em sua elevação, que as agências de rating façam seu trabalho deletério e que grandes empresas relacionadas com a Petrobras tenham dificuldade de renovar seus empréstimos. Nesse ambiente indesejável, basta que o investidor, ao encerrar o contrato da operação, troque os reais – as transações são fechadas em moeda nativa – por dólares e saia flanando para outros destinos. Na conta feita, dólar por dólar, somados só o efeito visível da Petrobras e dos swaps, as reservas cambiais cairiam de US$ 375 bilhões para US$ 180 bilhões. Isto, apagando da memória que a dívida da estatal tem um viés de alta e a cotação do dólar pode exigir mais ginásticas no swap. O fato é que, mesmo com improvável risco de grande deterioração, surgiu uma rachadura na telha das reservas cambiais. Talvez o maior ativo conquistado pelo país para a proteção do seu lastro não tenha liquidez, mas nome e porte físico. É a chamada reserva de valor Joaquim Levy, que promete parcimônia no uso de derivativos para hedge cambial, aperto fiscal e disposição de fazer o que tiver de ser feito para a realização do ajuste econômico. Agora, imaginem só se essa reserva se chamasse Aloizio Mercadante, Luiz Gonzaga Belluzzo ou outras moedas similares de valor discutível. O reservatório já teria começado a vazar em 2014.

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