Acorda Dilma, que ainda é tempo!

  • 15/12/2014
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A cerimônia de divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade foi só um vento tépido que bafejou o rosto dos militares. O que está deixando aceso o paiol das suas convicções mais arraigadas é o esgarçamento do tecido institucional, que pode desembocar em crise de desobediência civil no primeiro ano de mandato da presidente Dilma Rousseff. As Forças Armadas não estão eriçadas por motivações de ordem ideológica. A atual excitação é decorrente de um incômodo atávico com a instalação da desordem junto com o medo de que esse cenário leve a uma irresistível demanda pela materialização do fantasma confinado aos quartéis. Um general reputado da ativa conversou com o RR a respeito do risco de entropia política e institucional. Segundo ele, há uma combinação de fatores que torna todas as derivadas críticas, quer sejam a desgovernança do Executivo, a prepotência do Judiciário, a desmoralização do Legislativo, a crise econômica e a deterioração do ambiente psicossocial. Mas, o que particularmente incomoda os militares, ao contrário do que é propalado, não é a “espetacularização da Judicialização”, mas a “Justiceirização” que grassa solta pelo país. Os justiceiros do “Quarto Poder” – Ministério Público, Controladoria Geral da União, Tribunais de Contas, Polícia Federal – julgam, pré-julgam, delatam, prendem, retêm os autos dos processos e povoam a imprensa com suas sentenças, na maior parte das vezes mascarados pelo off the record. A proteção da fonte é uma condição legítima do bom jornalismo e pilar das grandes democracias. Mas seu abuso caracteriza outra forma de tirania, ou como diria Yves Mamou, legendário editor do Le Monde: “O vazamento como regra está para a democracia assim como a tortura está para a ditadura”. Não vamos aceitar que respingue lama nas Forças Armadas, disse a fonte. Os sistemas de informações dos militares, modestos, mas ainda operantes, identificam um apavorante cruzamento de eventos, nos quais o efeito da suspensão de pagamentos pela Petrobras afeta a sua cadeia de fornecedores. Estes, por sua vez, teriam dificuldades de financiamento e planejariam uma suspensão coletiva do recolhimento de tributos, com base no argumento de desequilíbrio econômico-financeiro provocado pelo próprio governo. Uma resultante direta dessa insurreição seriam o desemprego, as manifestações, a partidarização desse clima de revolta e a tentativa de ocupação das ruas, tudo temperado com os reclames de impeachment. O general informou que o Alto Comando considera bastante factível a divulgação de mensagens oficiais, “até para alertar os descontrolados”. Não há, conforme a mesma fonte, uma maior possibilidade de que essas mensagens se transformem em ação. Mas, vale o truísmo, uma coisa impossível deixa de ser no dia em que se torna possível

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