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A possível parceria entre Brasil e China no transporte ferroviário é apenas o espelho d’água. As negociações entre os dois países devem atingir camadas bem mais profundas. Os chineses estão dispostos a financiar um amplo pacote de obras em infraestrutura no país. Os valores sobre a mesa são superlativos: giram em torno dos US$ 30 bilhões. Além da logística ferroviária, o acordo envolveria investimentos em concessões públicas nos mais diversos segmentos – rodovias, portos, terminais aeroportuários, geração e transmissão de energia etc. No entanto, as contrapartidas são draconianas. O financiamento seria condicionado ao desembarque de uma tropa de construtoras chinesas, que ficariam responsáveis por alguns dos maiores projetos de infraestrutura do país. Os efeitos colaterais são ainda mais graves. Estas empresas trariam a reboque um grande aparato de ocupação, com a vinda de fornecedores e, sobretudo, de mão de obra. Milhares de operários chineses invadiriam os canteiros de obras, deslocando a força de trabalho local. As negociações se desenrolam desde o início do ano e vêm sendo conduzidas pelo próprio Planalto. Muito provavelmente, o assunto entrará na pauta do encontro entre Dilma Rousseff e o presidente da China, Xi Jinping, previsto para a próxima semana em Brasília. A possibilidade de um acordo, como não poderia deixar de ser, é motivo de grande preocupação entre as construtoras nacionais. O temor mais do que natural é que se repita o fenômeno já observado em outros países da América Latina e na africa, notadamente Angola, onde a sino-ofensiva praticamente esmagou a indústria de construção pesada local. Para onde quer que se movam, as construtoras chinesas levam consigo uma brutal capacidade de financiamento de bancos e agências de fomento estatais, que lhes permite praticar uma agressiva política de dumping. O Planalto não tem o menor interesse de que o assunto se torne público antes das eleições – na área de comunicação do Palácio existe uma forte preocupação em evitar o vazamento de valores, condições e termos de um eventual acordo. O assunto é extremamente delicado. Ninguém discute a necessidade de atração de investimentos para a área de infraestrutura, uma fatura que não cabe mais no caixa do BNDES. No entanto, até que ponto o governo está disposto a pagar o alto preço cobrado por uma eventual parceria com os asiáticos? As empresas brasileiras de construção pesada ocupam uma posição singular na institucionalidade nacional. Participam praticamente de toda a estrutura de investimentos em capital fixo – estão nas áreas de energia, telecomunicações e concessões em transporte, entre outros. Fragilizar esse papel é dar um tiro na capacidade de inclusão da mão de obra local. Até porque a história mostra que empresas chinesas são useiras e vezeiras em desembarcar nos lugares com uma multidão de operários, ir embora e não levá-los de volta. Recentemente, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) divulgou documento elaborado pela LCA Consultores explicitando sua preocupação com a invasão de construtoras chinesas no país. Não custa lembrar que já há precedentes, exemplos que mostram ser factível a entrada no Brasil de um grande número de operários vindos da China. Foi o caso da construção da Companhia Siderúrgica do Atlântico, feita por empresas de engenharia chinesas com a contrapartida do envio de dois mil trabalhadores.
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