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Os próximos passos da Arábia Saudita na cadeia da proteína no Brasil

  • 8/08/2024
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A vinda do ministro da Indústria e dos Recursos Naturais da Arábia Saudita, Bandar AlKhorayef, ao Brasil, no mês passado, trouxe um frenesi para a indústria da proteína animal. No setor, o entendimento é que o encontro entre AlKhorayef e a cúpula da Minerva Foods, no último dia 24 de julho, foi além de uma protocolar visita institucional.

O que se diz é que o ministro desembarcou no Brasil para cumprir uma importante missão: negociar o aumento da participação societária do Salic (Saudi Agricultural and Livestock Investment Company) na companhia. O fundo já é o maior acionista individual da Minerva Foods, com 30,5%, à frente da própria família Vilela de Queiroz, fundadora da empresa, que detém 22,3%.

O avanço no capital seria um movimento estratégico dos sauditas, seja do ponto de vista geoeconômico, seja sob a ótica da política de segurança alimentar do governo local. A ampliação da fatia societária na Minerva Foods asseguraria à Arábia Saudita acesso a um maior suprimento de carne bovina, uma das principais, se não a principal motivação seus investimentos na agroindústria brasileira.

Ao mesmo tempo, permitiria ao Salic acentuar seu peso decisório na companhia. Hoje, o fundo tem três das 12 cadeiras do Conselho. Já a gestão executiva permanece concentrada na mãos dos Vilela de Queiroz, notadamente na figura de Fernando Queiroz, CEO da companhia – em quem, diga-se de passagem, os árabes nutrem especial confiança.

O aumento da participação da Salic reforçaria a posição do Minerva Foods como o principal “veículo” de investimento dos árabes na cadeia da proteína animal no Brasil. Status este galvanizado pela boa relação com os Vilela de Queiroz e pelos sucessivos resultados positivos da companhia – o prejuízo de R$ 186 milhões no primeiro trimestre deste ano foi a exceção, não a regra. E a BRF nesse enredo?

Essa é outra história. Ou talvez a mesma. No ano passado, o fundo e a Marfrig aportaram cerca de R$ 4,5 bilhões na empresa de alimentos. Os sauditas passaram a deter 11% do capital. Desde então, há especulações sobre a intenção do Salic de aproveitar sua dupla presença para costurar uma fusão entre a BRF e a Minerva Foods, que levaria junto a Marfrig. Vontade os sauditas devem ter mesmo.

A operação daria origem a um grande grupo da proteína animal, com uma forte participação nas exportações tanto de carne bovina quanto de frangos. No entanto, é difícil imaginar que um negócio dessa dimensão passe pela porteira do Cade. Esse grande assado societário também enfrentaria resistências de ordem política. Ainda que exista hoje uma notória sintonia entre os governos do Brasil e da Arábia. Lula foi um dos principais defensores da entrada do país no bloco dos BRICs. A própria Salic é um importante elo entre Brasília e Riad. No ano passado, o governo brasileiro fechou uma parceria com o Salic para a recuperação de até 40 milhões de hectares de pastagens no país, transformando-as em área de plantio.

#Arábia Saudita #Minerva Foods

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