Os dados já estão rolando para o Ministério de Lula

  • 19/09/2022
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Ainda que seja eminentemente especulativo, devido à decisão do próprio Lula de omitir os nomes dos candidatos, o futuro Ministério de um eventual governo do PT já tem uma costura inicial. O ex-presidente é useiro e vezeiro em afirmar que ministro se anuncia depois que se ganha a disputa. Não é um consenso nem entre seus assessores mais próximos. Trata-se de uma das informações mais relevantes desse período eleitoral. Ela é determinante para sancionar a maior ou menor credibilidade de Lula, pelo menos junto a um espectro com grande poder decisório na iniciativa privada. Mas o candidato petista não larga o osso. O coletivo mais quente dos mais votados vai de um “museu de velhas novidades” até um balaio de “surpresas surpreendentes” – o RR de 30 de agosto antecipou alguns poucos nomes. O mais recente rumor é uma “velha e oportuníssima novidade”:  o upgrade de Marina Silva após seu apoio à candidatura Lula. Desde que Marina deixou o ministro do Meio Ambiente, no primeiro governo do PT, os dois políticos se tornaram bicudos. O bordado para o desposório da ex-ministra e Lula antecedeu em algumas semanas o apoio de Marina ao candidato. Marina retornaria, segundo apurou o RR, como ‘’ministra ESG”, com força total, incluindo na sua pasta as mulheres, negros, índios e demais grupos sociais minoritários, além é claro do meio ambiente.

A ex-seringueira teria uma secretaria especial a parte para tratar dos aspectos e demonstrativos referentes à governança, dirigida por um especialista renomado em práticas e contabilidade das políticas de integridade, conformidade e compliance – fala-se em um técnico do Banco Mundial.  Mas uma das funções mais nobres de Marina seria dar firmeza à demonstração do governo do PT em combater o desmatamento da Amazônia. O acrônimo ESG colado em Marina teria como um dos objetivos melhorar a imagem do Brasil no mundo. Queira-se ou não, ela é uma representação do país bastante positiva no exterior, notadamente na Europa, continente que se tornou o principal crítico do descaso ambiental e social do Brasil.

Marina Silva faz parte do time estelar do “ministério Lula”, mas não seria o astro de primeira grandeza. O n° 1 do primeiro time, como não poderia deixar de ser, será o ministro da Economia. A julgar pelo que apurou o RR, este está em fase de escolha entre o virtual vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e o candidato do PT para assumir o governo do Estado de São Paulo, Fernando Haddad. Como se sabe, Haddad está para o governo de São Paulo como Lula está para a Presidência, ou seja, bem à frente nas pesquisas, o que reduz suas possibilidades de assumir o Ministério mais nobre do país. Lula quer ter os dois maiores PIBs do país, o do Brasil e o de São Paulo, sob seu comando. Mais provável é que o candidato a ministro da Economia para valer seja mesmo o “Geraldo”.

Lula tem gratidão pelo “picolé de chuchu” ter aceitado o convite para compor sua chapa à Presidência e ser sua âncora junto ao centro e ao centro-direita. Há pistas já lançadas de que o “Geraldo” será recompensado. Lula já disse que não convidará nenhum dos quadros dos seus antigos governos e que a preferência para o Ministério da Economia recai sobre um quadro que não precisa ser um economista, mas sim que tenha habilidade política. “O que não quer dizer que não seja economista e político”, ressaltou o ex-presidente. Mas, a maior demonstração de que Alckmin tem tudo para ser o “cara” foi uma nada sutil declaração “daquelas bem Lula”. Em evento realizando em uma entidade patronal, um dos empresários presentes perguntou de chofre se o candidato do PT escreveria uma outra carta ao povo brasileiro. Lula respondeu igualmente de pronto, apontando para Alckmin: “Minha carta ao povo brasileiro está ali”.

Os assessores palacianos são uma grande incógnita mesmo no espaço amplo das especulações. Durante algum tempo, o senador Jaques Wagner foi cotado para a chefia do Gabinete Civil, mas a decisão de Lula de não repetir seus ex-colaboradores no atual governo meio que o tira de uma virtual competição. Segundo fontes bem próximas a Wagner, ele não gostaria de ter um papel de grande protagonismo no futuro governo. Junta pouca fome com a indisposição em comer. Nesta semana, o nome que ascendeu para os cargos de Gabinete Civil ou Secretaria Geral da Presidência foi o de Gleisi Hoffmann. Lula tem apreço pela presidente do PT, que lhe foi fiel em todos os minutos. Além do mais, o pequeno grande critério de não pertencer a seus governos passados não a atinge: Gleisi foi ministra do governo Dilma, não da gestão Lula. E um dado comportamental que o ex-presidente adora: Gleisi quer trabalhar o tempo inteiro, o que, portanto, lhe tira uma enorme bagagem das costas.

Há ainda uma possibilidade de um outro pé de boi, o economista Aloísio Mercadante, assumir um cargo no Planalto: o de secretário particular da Presidência. Trata-se de uma escolha pessoal, da qual Lula pode se proteger afirmando que a função não é a de ministro, nem que ele tenha comparecido em governo anterior, mas, sim, de um assessor pessoal. Quem sabe? Coisas de Lula.

Com Alckmin, conforme tudo indica que ocorrerá, ou mesmo Fernando Haddad, o ministério Frankenstein da Economia de Paulo Guedes, será desmembrado. O Ministério da Indústria e Comércio voltará à cena. O nome mais forte para a missão é o do atual presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, filho do vice-presidente de Lula, José Alencar. Essa é uma pule de dez. O pacote de Josué traz gratidão, lealdade, reconhecimento da competência e indiscutível representação de classe. Chegou-se a cogitar, inclusive, seu nome para o ministério da Economia. Ou mesmo da Infraestrutura.

Uma das outras pernas da centopeia criada por Guedes, o Ministério do Planejamento, iria para o economista Luiz Guilherme Schymura, atual presidente do Ibre, da Fundação Getulio Vargas, e ex-presidente da Anatel, ainda no governo Lula. Schymura não é o que se poderia chamar de um liberal clássico ou um neoliberal, mas um liberal modernizante ou progressista, com pensamento praticamente antagônico ao do atual gestor da Economia. Receberia o afortunado retorno do BNDES para a Pasta do Planejamento. Trata-se de uma questão em aberto. Também Josué deseja o banco debaixo do guarda-chuva do Ministério da Industria e Comércio. Como já foi dito e redito,  Lula quer turbinar o banco e recolocá-lo no centro de importantes decisões econômicas. E o presidente do BC? Como o RR ressaltou no dia 13 de setembro, até meados do provável governo Lula – ou aliás, qualquer outro governo – Roberto Campos Neto será o titular da autoridade monetária. E daí para frente? Campos Neto já disse que não pedirá sua recondução.

Pelo menos 80% das cartas do baralho constroem as canastras que levam ao nome de Henrique Meirelles. O ex-presidente do BC no governo Lula tem a confiança do candidato do PT. Já sinalizou que ficará na moita, acumulando a participação em conselhos de empresas, fazendo hora até que seu tempo chegue. Ou não, conforme todas as hipóteses aventadas nesse texto. Até porque, só Lula escolhe quem vai, para onde vai e em qual hora anunciar.

Para o Ministério do Trabalho, extinto e recriado pelo governo Bolsonaro, três nomes de alta envergadura no PT são comentados para o cargo: Ênio Verri, Rui Costa e Wellington Dias. Verri é economista, atual vice-líder do PT na Câmara, tem excelentes relações com Roberto Requião – de quem foi secretário do Planejamento. Costa sucedeu a Jaques Wagner no governo da Bania. Teria o apoio de José Dirceu. Já Wellington Dias é considerado um dos quadros mais preparados e moderados do PT. Dias é especializado em políticas públicas. Foi vereador, deputado estadual, deputado federal, senador e governador do Piauí, todos os mandatos pelo PT. Atualmente – e bem provável que seja temporariamente – busca uma cadeira de senador.

Lula teria ainda uma novidade para a Educação, que pretende tornar uma das Pastas mais prestigiadas da constelação de ministérios do seu governo. Para o cargo seria convidado o economista Claudio Haddad, dono do Insper.  O patrono da indicação de Haddad seria o candidato a governador e homônimo, Fernando Haddad, que, inclusive, deu aula no Insper – ver RR de 25 de julho. O economista assumiria um papel de “gestor da educação”, dando ordem nos gastos e sua destinação. Há muito dinheiro do governo dirigido à educação. O retorno, porém, é baixo porque sua alocação é ineficiente. Haddad seria o nome indicado para a missão.

Se depender do kaiser do PT, o suspense seguirá até o fim do provável segundo turno. Lula fez praticamente o mesmo no seu primeiro mandato. Sua festejada intuição parece dizer que é melhor jogar como um poste fincado na pequena área. Ele dificilmente criará fatos políticos capazes de deslocar o seu mando de campo. Fica tudo em suspense, para anunciar depois. Aguardemos.

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