O “programa de governo” radical, porém sincero do General Mourão

  • 28/09/2018
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Desde já, estamos entendidos: o General Hamilton Mourão não vocalizou nem o seu superior hierárquico na política, o candidato Jair Bolsonaro, nem seus companheiros de farda ao defender o fim de conquistas trabalhistas, tais como o 13o salário e férias. Ontem mesmo Bolsonaro não somente desautorizou a incontinência do seu vice como fez gestões para que os pares de Mourão nas Forças Armadas intervenham junto ao general, pedindo a ele que se contenha nas suas manifestações. O General Mourão, segundo o RR apurou junto a alguns oficiais, é considerado um caso perdido fora do seu ambiente de origem, o Exército. Sua extrema sinceridade é aceita como natural na área militar.

Nas Forças Armadas, os oficiais estressam suas opiniões ao limite, sendo naturalmente interpelados conforme a cadeia de comando. É razoável que Mourão sequer pense aquilo que tem dito. De toda a maneira, as diatribes do General têm incomodado civis e militares envolvidos na campanha de Bolsonaro.Do praça ao general quatro estrelas, se há um estamento na República que tem pleitos represados na esfera trabalhista é justamente o militar, a começar pela periodicidade dos reajustes. A regra em vigor prevê aumentos salariais de três em três anos – o próximo está previsto apenas para 2019. As Forças Armadas reivindicam reajustes anuais. Outro ponto bastante sensível é a defasagem na remuneração da categoria, uma bola de neve que rola desde o já longínquo governo de FHC.

Hoje há uma dezena de forças policiais que pagam a seus integrantes valores superiores aos recebidos pelos militares em patentes equivalentes. Em alguns casos, a remuneração é quase o dobro. Um exemplo: um coronel da Polícia Militar de Santa Catarina recebe algo em torno de R$ 28 mil, ao passo que o salário mensal de um coronel do Exército é da ordem de R$ 15 mil. Há cerca de um mês, em sua despedida do cargo de chefe do Estado-Maior do Exército, o general Fernando Azevedo e Silva, até então o primeiro na linha sucessória do Comandante Villas Bôas, fez críticas aos salários pagos aos militares. Por certo, verbalizou um pensamento comum a seus colegas de Alto-Comando. Mourão errou na forma e no conteúdo, tocando em um ponto nevrálgico para os militares.

A fonte do RR lembra que as demais corporações do aparelho de segurança exercem maior pressão sobre o governo e a própria opinião pública dos que as Forças Armadas. Militares não fazem greve, ao contrário de policiais militares e civis, bombeiros ou mesmo a Polícia Federal. É sintomático, por exemplo, que o Projeto de Lei 5.492, de autoria do deputado Cabo Daciolo e já aprovado em diversas comissões da Câmara, proponha o pagamento de adicional de periculosidade aos “órgãos de segurança pública previstos no Artigo 144 da Constituição”: Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, polícias militares e corpos de bombeiros. Exército, Aeronáutica e Marinha não fazem parte dessa “corporação”. Todos perderiam se fosse adotado o duríssimo “programa de governo” do General Mourão.

#General Hamilton Mourão #Jair Bolsonaro

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