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Há movimentações cruzadas em andamento na prateleira mais alta da cadeia da proteína animal no Brasil. Segundo informações filtradas pelo RR, o Marfrig e o Salic (Saudi Agricultural and Livestock Investment Company) têm interesse na compra da participação da Previ na BRF. O fundo de pensão detém 6,1% do capital.
Tomando-se como base apenas a cotação em mercado, sem qualquer prêmio adicional, trata-se de uma fatia avaliada em pouco mais de R$ 2,1 bilhões. Há exatos quatro anos, não custa lembrar, a Previ vendeu o equivalente a 3% da BRF para a própria Marfrig. Desta vez, a empresa de Marcos Molina dividiria o prato com o Salic, o que permitiria à dupla se consolidar no bloco de controle da empresa, com quase 68% do capital.
Atualmente, o Marfrig é dono de 50,49% da BRF, enquanto o fundo árabe soma 11% das ações. Em contato com o RR, a Previ disse que “não recebeu, até o momento, nenhuma proposta para suas ações da BRF”. Sublinhe-se o “até o momento”. Também consultada, a Marfrig não quis se manifestar.
Isoladamente, a ofensiva da Marfrig e do Salic sobre a participação da Previ já seria um movimento de razoável impacto no tabuleiro da proteína animal no Brasil. No entanto, há um curioso sincronismo com outra operação em curso no setor, da qual o fundo árabe também é protagonista: o aumento de capital da Minerva Foods, formalizado na semana passada.
Um fato em especial chama a atenção do mercado. Mesmo com uma participação acionária maior, o Salic vai aportar um volume de recursos na Minerva inferior ao da família Vilela Queiroz, fundadora da empresa. E a diferença é mais do que o dobro. Os árabes vão injetar cerca de R$ 300 milhões, enquanto os Vilela de Queiroz entrarão com aproximadamente R$ 700 milhões.
Com isso, o fundo deverá ter sua participação diluída dos atuais 31% para algo em torno de 25%. O clã, por sua vez, sairia de 23% para 26%, voltando a ser o maior acionista da Minerva. No setor, a percepção é de que o braço de investimentos da família real saudita está aproveitando ao aumento de capital da empresa para iniciar um reposicionamento de seus negócios no Brasil.
Por reposicionamento entenda-se uma realocação de recursos da Minerva para a BRF. Não quer dizer que o fundo deixaria o capital da Minerva. Até porque, dentro da estratégia dos árabes de garantir suprimento alimentar a partir da cadeia da proteína no Brasil, a dupla presença acionária faz todo o sentido. Mas é possível que, daqui para a frente, a BRF passe a ser o destino prioritário dos investimentos da Arábia Saudita.
Algumas questões justificariam esse rebalanceamento. A primeira delas, o tamanho das empresas. A BRF é um conglomerado com um portfólio maior de marcas e produtos e um faturamento superior a R$ 65 bilhões. É quase o dobro da receita da Minerva. Há outro ponto ainda mais crucial: a expressiva presença BRF no chamado mercado halal, leia-se alimentos que atendem a preceitos religiosos do islamismo.
A empresa detém, por exemplo, metade das exportações de frangos para o Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), bloco que reúne Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã. A presença da BRF é especialmente marcante na Arábia, onde já tem uma fábrica e está construindo outra, com inauguração prevista para 2026.
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