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Quantos votos vale 0,1% de inflação?

  • 18/09/2013
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Dilma Rousseff tem divergências silenciosas com o ex-presidente Lula. Uma delas diz respeito a  importância dada a  oscilação de percentuais ínfimos na taxa de inflação sobre a avaliação do governo nas pesquisas. Dilma implica com o peso dado aos 0,1%, 0,2% e quejandos na carestia. Na visão da presidenta, a mídia reproduz mais os chiliques oportunistas do mercado financeiro do que a percepção de aumento no custo de vida. Até porque, mais 0,1 ponto percentual de inflação em um mês pode ser seguido de menos 0,2 ponto percentual no mês seguinte. Por isso, Dilma namora com a ampliação para dois ou três anos do prazo para o cumprimento da meta inflacionária. O frenesi em torno desses pequenos espasmos nos aumentos de preços ficaria diluído. Dilma ainda não bateu o martelo para a alteração no modelo atual do inflation target porque considera que no momento poderia ter uma influência sobre as expectativas mais deletéria do que o impacto sobre o eleitorado propriamente dito. Ah, então as “inflaçõezinhas” não são importantes? Ora, ninguém é bobo no Palácio do Planalto. O percentual de 0,1% pode significar alguns danoninhos ou três sacos de feijão e arroz. Além disso, existem as marcas icônicas. Por exemplo: o governo persegue com afinco que a inflação de 2013 seja inferior ao INPC de 5,85%, não porque o cabalístico 0,1 ponto percentual vá fazer grande diferença per si na realidade social do país, mas o fará, sim, do ponto de vista psicológico. O mesmo raciocínio se aplica ao rompimento do topo da meta de 6,5%. Se for 6,6%, é um “desastre”, mas somente sob o aspecto simbólico. Alta, a carestia já estaria com a meta cravada de 6,5%, ou em 6,4%, ou em 6,3%… E, mesmo assim, preços altos, pero no mucho. Lula diz que a inflação é o pão nosso do eleitor. Dilma nutre dúvida sobre o custo político dos grãos de areia de carestia. A presidenta contradiz a relação entre um pontinho de inflação e mais votos nas urnas com evidências empíricas. Pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), feita pelo Instituto MDA e divulgada na semana passada, revela que 75,9% não acreditam que a inflação esteja controlada. Outra pesquisa em poder do Planalto, entretanto, garante que mais de 85% não creem que ela possa subir muito. Nesse cenário, a popularidade da presidenta cresceu mais de 8% na pesquisa da CNT. Curioso, é que Dilma, keynesiana de carteira e kaletskyana de coração, quando se trata do aumento dos preços descamba para a Escola de Chicago. Sua máxima é de Robert Lucas, Prêmio Nobel de Economia de 1995, para quem “inflação ruim é aquela que a gente não espera”. Síntese “dilmística”: não é isento aquele que aposta hoje no risco de descontrole inflacionário.

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