Estudo da EPE é só mais um papel na mesa de Dilma

  • 25/07/2013
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Se autonomia é desencontro ou abandono, as empresas de planejamento jamais tiveram tanto independência. O governo Dilma Rousseff virou de costas para estas instituições, ignorando-as ou desautorizando-as em diversas situações. Um bom exemplo é a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), do “ex-capitão dos transportes de Dilma”, Bernardo Figueiredo. O manda- chuva em passado recente tem sido pisoteado pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin, que alterou, sem dar satisfações, a taxa de retorno de aproximadamente 8% negociada com as empresas de transporte interessadas no trem-bala. Augustin desprezou o trabalho da EPL e definiu a taxa em 7%. Figueiredo nem mais participa das reuniões com empresários do setor ferroviário. Ele não está sozinho. Pode chorar junto com Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Até agora, o Planalto não fez um movimento sequer em resposta a um documento da maior gravidade enviado recentemente pela EPE. Baseandose no cruzamento de dados da matriz energética e das projeções de aumento da demanda nos próximos anos, a empresa produziu um estudo alertando sobre a necessidade de instalação de 42 usinas hidrelétricas. Isso mesmo, 42 usinas. No entendimento dos técnicos da EPE, este é a quantidade de empreendimentos de que o país precisa para afastar qualquer risco no suprimento de energia elétrica na próxima década. Antes que alguém pense numa fieira de gigantescas construções, do tamanho de Jirau ou Belo Monte, ressaltese que o estudo é bastante pé no chão. O número inclui geradoras dos mais diversos portes, a maioria delas na Bacia do Amazonas. No entanto, a EPE parece falar de um Brasil alienígena, que só existe em suas planilhas e projeções. O Brasil do Ministério de Minas e Energia é impávido e incandescente, pródigo na autogeração de energia. Ao menos é o que sugere o enorme gap entre o total de hidrelétricas apontado no estudo da EPE e a soma de novos projetos incluídos no Plano Decenal 2012-2021: apenas oito usinas. Mesmo com a inserção de mais sete hidrelétricas na versão 2022 do Plano Decenal, já sinalizada pelo governo, ainda assim a distância permanece enorme. Mesmo com os solavancos no crescimento da economia, a estimativa é que o país necessitará de um aumento da oferta do insumo da ordem de 4% ao ano até 2024. Em números arredondados, isso significa a construção de uma Belo Monte a cada um ano e meio. Isso se o plano de eficiência energética for cumprido a  risca, o que geraria uma economia de aproximadamente 32 mil GWh ao longo da próxima década. O estudo da EPE evidencia o quanto o governo bate cabeça nos mais variados assuntos. Segundo uma alta fonte da pasta de Minas e Energia, o ministro Edison Lobão acenou a  presidente Dilma Rousseff sobre a viabilidade de construir, até 2025, ao menos 36 das 42 usinas indicadas pela EPE, incluindo as hidrelétricas dos rios Tapajós, Teles Pires e Juruena, cujos projetos estão mais avançados. No total, estes empreendimentos exigiriam mais de US$ 50 bilhões de investimentos. Dilma, no entanto, segue impassível em relação ao assunto. Ainda assim, cabe a pergunta: se dá para erguer este contingente de geradoras em pouco mais de uma década, por que o Plano Decenal, na melhor das hipóteses, prevê a construção de apenas 15?

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