BC coloca em xeque a esperteza do mercado

  • 27/05/2013
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“Qualquer que seja a taxa que você esteja pensando, coloque de meio ponto a um ponto percentual acima”. A recomendação foi feita por um economista Top 10 a um integrante do Copom, incluindo um conselho de brinde: “Pense independente, mas pense politicamente”. O fato é que no coração do mercado bate apertadinho a possibilidade do aumento da Selic chegar a 0,75 ponto percentual. E o Focus, o que diz? Se o ex-ministro Mario Henrique Simonsen estivesse vivo diria que o Focus é a média entre a hipocrisia e a obviedade. Simonsen tinha grandes momentos iconoclásticos. Em seu livro “Ensaios Analíticos”, escangalha com a obsessão pela teoria das expectativas racionais. Ele não está por aqui, mas estão Afonso Celso Pastore e José Alexandre Scheinkman, duas opiniões que teriam sido consultadas, pasmem, por emissários da Fazenda. Armínio Fraga só deixou de constar da lista por ter explicitado seu namoro com Aécio Neves. Com a saída de Nelson Barbosa e a ascensão de Marcio Holland, vem tomando corpo nesse grupo o pensamento de que é necessária uma inflexão mais a  direita, como se dizia, com clareza, no período pré-Lula. O BC não está nem a  direita nem a  esquerda, mas se sente confortável com uma Fazenda sintonizada com o risco da inflação, previsivelmente em queda nos próximos dois meses, voltar a empinar até o Natal. Uma gangorra maior poderia vir em 2014, com os preços subindo acima do final de 2013. As oposições ao governo ganhariam de mão beijada o slogan de campanha: “A inflação voltou”. Por isso, uma Selic entre 9,25% e 9,50% daria a medida exata do bom conservadorismo do BC e seria recebida com o mutismo sorridente da Fazenda. O aconselhamento com economistas de fora da casa está em moda também porque Mantega e cia. já se debruçam sobre o ano da graça e chateação de 2015. Com Dilma reeleita, há uma conta do câmbio, dos gastos fiscais e dos salários acima da produtividade. Mantega não é burro, conforme se pronuncia em italiano no infame trocadilho. Já admite até não escapar de promover uma redução no salário real de forma a estimular o câmbio no Dilma 2. Também por isso, agora seria aceitável – e até recomendável – o bonapartismo monetário de Alexandre Tombini. A pancada, um ajuste “rápido e indolor”, viria em 2015, amaciada por medidas microeconômicas e o carry over dos investimentos governamentais de 2014. Não haveria muitas soluções fora dessa cartilha para consertar a desarrumação provocada por esse biênio, refém de externalidades e excessiva ideologização. E será que Dilma topa? Se ela escutar os mestres, vai ver que é difícil curar indigestão sem purgante. Basta lembrar do apóstolo Celso Furtado, que lançou mão de um ajuste ortodoxo, sem escrúpulos, para combater a inflação nos idos do plano trienal. Para não ir tão longe, Dilma pode também recordar o padrinho Lula em 2003/2004, quando ele incorporou Otávio Gouveia de Bulhões e promoveu o arrocho que nem o tucanato teve coragem de fazer.

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