Acervo RR

Votorantim encontra a porta de saída dos metais

  • 26/03/2013
    • Share

A entrevista do presidente da Votorantim Metais, Tito Martins, publicada ontem na imprensa, parece ter sido concedida para confundir e não para explicar. Tito, sem dúvida, é o homem certo, na hora certa e no lugar certo. Lugar certo? Melhor seria dizer lugar complexo, confuso, intranquilizador. Um sítio sob medida para o talento de domador de adversidades de Martins. Basta dizer que, entre outros desafios cabeludos, o executivo enfrentou uma greve dos trabalhadores na Vale Inco, que quase virou case mundial de tumulto sindical. Além, é claro, de ter sido diretor de comunicação da dupla Roger Agnelli e Carla Grasso, e de ter feito a transição para a gestão de Murilo Ferreira na presidência da mineradora. Na sua partida da Vale, comentava-se que Tito iria para a Votorantim fechar algumas portas e abrir outras, principalmente para sócios estrangeiros. Menos seria mais na Metais, tendo em vista que a megalomania dos Ermírio de Moraes havia atingido também seus prejuízos. Pois bem, Tito Martins agora propõe a reprimarização da área de metais do grupo. O engenheiro e patrono da indústria metalúrgica no Brasil Antônio Ermírio sentiu um calafrio estremecer seu corpo. Martins não disse, mas essa nova base de negócios seria splitada da Votorantim Industrial, com o encolhimento da área de metais. Níquel e alumínio, por exemplo, já não apresentam mais vantagens comparativas no Brasil. As usinas produtoras poderiam ser passadas para frente, com a busca de alguma associação. Os “projetos parrudos” anunciados são luzes de uma lanterna com pilha baixa, quase um convite feito pela mídia para que algum parceiro se apresente. Os investimentos anunciados em 2013, da ordem de R$ 1,5 bilhão, também são bem “lustrados”. Eles dependerão dos resultados do ano. E são reduzidas as perspectivas de a empresa baixar expressivamente o seu prejuízo, de R$ 1,75 bilhão em 2012. Se cada divisão virasse uma companhia a  parte, as cifras isoladas já seriam de causar perplexidade. A unidade de zinco teve perdas superiores a R$ 700 milhões; a de alumínio, mais de R$ 500 milhões; a de níquel, R$ 450 milhões. Portanto, a saída para mineração vai além da escolha. É o que é possível. Vão se amontando os minérios que se tem no quintal e arrumando- os debaixo de uma subholding. Martins, que é um craque, embrulhou o desastre com papel celofane e anunciou a nova fase como uma joia rara. Tudo virou sensacional. Até o projeto de cobre no Peru tem o nome de Magistral. Recentemente, quando o RR teve a informação de que a Glencore estava analisando os ativos da Metais e poderia até fazer uma oferta no atacado, Tito desmentiu, dizendo que houve apenas uma visita. Agora, sabemos por ele mesmo que a Metais está buscando sócios capitalistas, tradings e usuários de matérias-primas. Enquanto Martins descasca o abacaxi, o que se vê no Votorantim é a maior densidade demográfica de herdeiros disputando um papel na gestão operacional. Cada vez mais, os Ermírio de Moraes pensam e agem guiados apenas pela primeira pessoa do singular, sem perceber que a primeira do plural está se esfarelando. Por sorte, em seu caso específico, a Votorantim Metais tem um Tito Martins. Mas nada substitui no grupo um Antônio Ermírio de Moraes.

Leia Também

Todos os direitos reservados 1966-2024.