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Acervo RR
Kirin e Heineken estão envolvidas em uma inusitada disputa. Quem vencer leva o troféu para casa; quem perder também. O que está em jogo neste estranho campeonato cervejeiro, de regulamento tão peculiar, é o destino da Petrópolis. Tanto holandeses quanto japoneses partiram com tudo para cima da companhia de Walter Faria. Os holandeses vêm mantendo conversações com o empresário desde o fim do ano passado – ver RR edição nº 4.255. No entanto, há discordâncias quanto ao valor do ativo. Os japoneses também teriam iniciado tratativas com Faria, com o objetivo de juntar a Schincariol e a Petrópolis na mesma tulipa. Os dados estão rolando e tanto a Kirin quanto a Heineken prometem jogar alto para fisgar a última cervejeira nacional capaz de fazer diferença no ranking do setor. No entanto, holandeses e japoneses enxergam o duelo por uma lógica sinuosa e bastante particular. Trata-se de uma peleja sem perdedores. No máximo, um poderá sair ganhando um pouco mais do que o outro. Heineken e Kirin trabalham com a tese de que tirar a Petrópolis de circulação já será uma vitória, ainda que a empresa caia em mãos adversárias. A premissa que rege esta exótica disputa é que o melhor dos mundos neste momento seria a saída de Walter Faria do setor. Hoje, o empresário é hors concours na lista dos piores concorrentes do mercado. Existe um consenso no setor de que a Petrópolis joga o jogo com pouco fair play fiscal. Como nada neste torneio é o que parece ser, há quem diga até que o comprador da Petrópolis poderá perder mais do que o próprio derrotado. Difícil imaginar que, sem Faria, a empresa consiga manter suas atuais taxas de crescimento de market share, vistas como pouco exequíveis em condições normais de competitividade. É bastante improvável que japoneses ou holandeses sustentem a mesma massa de investimentos em marketing da Petrópolis, que tem relação enevoada com o faturamento que se enxerga da empresa. São notórias as controvérsias fiscais da cervejeira, embora o RR prefira acreditar que Walter Faria é um gênio. Logicamente, Heineken e Kirin não comungam deste pensamento. Ninguém é louco de entrar em campo para perder. No entanto, executivos do setor ouvidos pelo RR defendem a tese de que a compra da Petrópolis pode vir a ser até mesmo uma vitória de Pirro. A duvidosa conquista começaria já no preço. A Schincariol foi vendida por um múltiplo de 16 vezes o seu Ebitda. A estimativa é de que a Petrópolis esteja avaliada em 24 ou 25 vezes o seu Ebitda. O problema, no entanto, não é só o valuation. Kirin e Heineken estão lidando com uma matemática de números relativos. Elas podem muito bem pagar por um engradado de 24 cervejas e levar apenas uma dúzia de garrafas. Na aritmética do mundo real, a Heineken passaria de 8% para 18% com a compra da cervejeira. A Kirin, por sua vez, pularia para 22% do mercado. No entanto, é quase inevitável que, sem os atuais diferenciais de competitividade encontrados por Walter Faria, a Petrópolis experimente uma bizarra adição a s avessas e tenha uma trajetória cadente no médio prazo. Isso sem contar que Heineken e Kirin correm o risco de não encontrar a tempo os famigerados esqueletos que os mais estrelados advisers do mercado de fusões e aquisições conseguem identificar. Clássico estranho esse disputado por holandeses e japoneses.
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