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Americanas arranha a fama de Lemann e cia.

  • 10/10/2011
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Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcelo Telles estão discutindo o futuro de um de seus mais antigos e emblemáticos negócios: a Lojas Americanas. Não há meio termo sobre a mesa. O trio trabalha com duas hipóteses extremas: partir para um processo de consolidação capaz de aumentar a massa crítica e permitir a mudança do perfil operacional da rede varejista ou, então, entregar os pontos e vender a empresa. Diante da interrogação, os controladores da Lojas Americanas têm apenas uma certeza. Do jeito que está, a companhia não pode ficar. O modelo de operação das lojas físicas é considerado obsoleto e insustentável. Ao longo dos anos, a companhia tornouse um híbrido de supermercado, rede de eletroeletrônicos e loja de conveniência (leia-se a Americanas Express). É tudo sem ser nada. Para seus controladores, a empresa não consegue cumprir plenamente nenhum destes papéis. Há também uma crescente insatisfação com o sistema de gestão da Lojas Americanas. A tríade Lemann, Telles e Sicupira não consegue se enxergar na atual estrutura de administração da rede varejista. Na comparação com a AmBev, a Americanas mais parece um armarinho do Saara ou um armazém da Rua do Alho. Nos últimos meses, os acionistas majoritários da Americanas vêm se dedicando a  tarefa de dissecar a empresa e identificar suas principais fragilidades. Não obstante o aumento de 15% no lucro no primeiro semestre (R$ 105 milhões), têm encontrado mais defeitos do que virtudes. A compra da BlockBuster, por exemplo, não gerou as sinergias esperadas. A Americanas Express, formato que nasceu a partir das lojas da antiga locadora, está aquém da rentabilidade esperada. Lemann, Telles e Sicupira também estão preocupados com o descolamento entre a rede varejista e seu público tradicional. A percepção é de que a Americanas não conseguiu acompanhar as mudanças no perfil do consumidor brasileiro. As classes C e D, que sempre foram os pilares da companhia, têm buscado redes com um perfil mais sofisticado. Como se não bastassem os problemas inerentes a  sua própria operação, a Americanas ainda tem de carregar sobre as costas o peso da B2W, sua controlada. A empresa, que engloba os sites Americanas. com, Submarino, Shoptime e Ingresso.com, transformou- se na Geni do comércio eletrônico. As pedras vêm de todos os lados, notadamente dos clientes e dos investidores. A empresa virou benchmarking de maus-tratos ao consumidor e um fenômeno dos Procons de todo o Brasil. Em São Paulo, a média mensal estaria na casa das 300 reclamações. A antipatia em relação a  empresa não se resume aos consumidores. Passa também pelas Bolsas. Neste ano, sua ação caiu mais de 55%. Na comparação com janeiro de 2010, a derrocada chega a 70%. Tanta ojeriza ao papel não chega a surpreender. No ano passado, o lucro da B2W caiu a  metade. No primeiro semestre deste ano, ela teve um prejuízo de R$ 22 milhões, contra um ganho de R$ 32 milhões em igual período em 2010. A depreciação do ativo é algo que dói fundo em financistas da estirpe de Lemann, Telles e Sicupira. Desde 2007, quando a B2W passou a ser negociada na Bovespa, seu valor de mercado caiu de R$ 13 bilhões para aproximadamente R$ 2,2 bilhões. Este desempenho só alimenta ainda mais as dúvidas da trinca de investidores quanto ao futuro da Americanas. Dos bons e velhos tempos, não sobrou nem o cachorro quente.

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