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Monsanto duela com o Ministério da Agricultura

  • 24/06/2010
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A passagem de Wagner Rossi pelo Ministério da Agricultura promete ser curta, porém marcante. Ao menos para a Monsanto. Rossi, que assumiu o cargo com a desincompatibilização de Reinhold Stephanes, está transformando sua gestão em uma trincheira contra a empresa norte-americana. Poucas vezes a multinacional se deparou com um Ministério tão hostil aos seus interesses. Rossi vem trabalhando para reverter a decisão da Camex, que, maio, estipulou uma sobretaxa de US$ 3,60 o quilo para o glifosato importado da China ? trata-se de uma importante matéria-prima para a produção de defensivos agrícolas. A Monsanto, que tem uma fábrica do insumo em Camaçari (BA), capitaneou um forte lobby para o aumento do imposto, contando, inclusive, com a ajuda do ex-governador Jacques Wagner. Entre os sete ministros que compuseram o colegiado da Camex, Rossi foi o único que votou contra a sobretaxa. Derrotado no primeiro round, tem defendido dentro do governo novas regras para a tributação do glifosato chinês, leia-se o escalonamento da alíquota ou a postergação da decisão para a próxima safra. A justificativa é que a barreira alfandegária vai impor aos agricultores um aumento de custos na compra de defensivos que não estava no script. Isso porque a produção nacional não consegue atender a toda a demanda e a compra do produto chinês é inevitável. O choque entre a Monsanto e o ministro da Agricultura não se restringe a  tributação do glifosato. Produtor rural por mais de três décadas, Wagner Rossi também tem se mostrado sensível a  mobilização do setor contra os royalties cobrados pelos norte-americanos na venda de sementes transgênicas, notadamente de soja. Um grupo de agricultores, reunidos sob a égide da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), entrou com uma representação no Cade denunciando a Monsanto por supostas práticas de cobrança abusiva de royalties, manipulação e imposição de preços ao mercado. Rossi vem angariando o apoio da bancada ruralista, notadamente do Centro-Oeste, com o objetivo de pressionar o grupo norte-americano a rever as taxas cobradas pelo uso de suas sementes geneticamente modificadas. Trata-se de uma das mais importantes fontes de receita da multinacional no país. Wagner Rossi, ministro-tampão que, a princípio, assumiu o cargo com dia e hora para deixar a cadeira, é um franco atirador. Nada tem a perder na queda de braço contra a Monsanto. Mesmo que seja derrotado tanto na questão do glifosato quanto dos royalties das sementes transgênicas, só aumentará seu cartaz junto a uma fatia importante do seu eleitorado por ter contestado a Monsanto. Se vencer qualquer um dos duelos, periga ser carregado nos braços pelos agricultores na Esplanada dos Ministérios.

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