JP Morgan transforma usineiros em bagaço de cana

  • 25/03/2015
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A pequena e pacata Itapira, no interior de São Paulo, tem sido testemunha do choque entre uma das mais antigas estirpes de usineiros do país e uma tropa de financistas sequiosos de que sua passagem por aqueles canaviais seja a mais breve e profícua possível. Nem é preciso dizer quem deve levar a melhor. O JP Morgan, que, na condição de um dos maiores credores, assumiu a gestão do combalido Grupo Virgolino de Oliveira (GVO), está estraçalhando as raízes plantadas e cultivadas pela família Ruette por mais de nove décadas. Se for necessário fechar alguma das quatro usinas sucroalcooleiras do grupo em São Paulo, assim será. Se for preciso dispensar milhares de empregados, o que se há de fazer? Todas as opções são deletérias aos olhos dos herdeiros do empresário Virgolino de Oliveira, a começar por sua viúva, Dona Carmem Ruette, que se viu forçada a deixar a gestão da companhia e entregá- la a um pool de credores. Para o JP Morgan, que se embrenhou nesse matagal ao lado de outros bancos e fundos de investimento, só há uma saída: cortar, cortar e cortar até que seja possível vender o GVO e recuperar ao menos parte do dinheiro investido no negócio. Os executivos do banco têm adotado uma estratégia florentina. Fazem com que as decisões mais impopulares sejam debitadas na conta dos acionistas controladores. E não são poucas. O GVO vem atrasando o pagamento de salários sistematicamente. A situação chegou a tal ponto que os trabalhadores têm feito piquetes na porta das usinas para dificultar as entregas de açúcar aos clientes, notadamente a Copersucar, da qual o grupo é sócio há décadas. Os funcionários exigem garantias de que os recursos amealhados com a venda do produto serão usados para quitar as pendências trabalhistas. O GVO tenta convencer os manifestantes a encerrar os protestos e liberar as entregas, com o aceno de pagamento de parte dos atrasados. No entanto, entre os trabalhadores a desconfiança é generalizada. Não por acaso. As pendências se alastram como gafanhotos numa lavoura. Recentemente, o GVO começou a atrasar o pagamento de juros de emissões de bônus. O passivo total beira os R$ 2,7 bilhões – aproximadamente um terço com vencimento para este ano. Os bancos mantêm a família a  margem de qualquer decisão, até por entender que os Ruette fazem parte do problema e não da solução. Dona Carmem deixou a presidência do grupo para ocupar um cargo quase honorífico na diretoria. Seu filho, Hermelindo Ruette, não teve a mesma deferência. Ex-presidente da Copersucar, Hermelindo foi sumariamente afastado do posto de diretor-superintendente do GVO. Antes de entregar as chaves de casa aos credores e hoje algozes, Dona Carmem chegou a pensar numa solução consanguínea: a fusão das quatro usinas do GVO com as plantas sucroalcooleiras do Grupo Ruette, controlado por seu irmão, Antonio Ruette. No entanto, em fevereiro, a empresa de Antonio entrou com pedido de recuperação judicial. Que sina!

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