Camargo Corrêa e China Railway são trens em rota de colisão

  • 3/12/2014
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Enquanto a Operação Lava Jato avança, os planos da Camargo Corrêa para o segmento de concessões ferroviárias retrocedem. A associação com a China Railway Construction Corp (CRCC) para a próxima rodada de leilões da ANTT, que já era tratada pelo altocomando da construtora como favas contadas, está descarrilando. Em julho, na esteira da visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao Brasil, as duas empresas assinaram um termo de acordo para estudos de viabilidade de investimentos em logística. A ideia original era formalizar a parceria ainda neste ano, mas, segundo fontes que acompanham as negociações, dificilmente este prazo será cumprido. Há um impasse em relação a  composição societária do consórcio. Os chineses, que, a princípio, teriam uma fatia minoritária no negócio, subitamente mudaram de direção. A CRCC teria condicionado o acordo a  garantia de uma participação superior a 51%. O grupo asiático alega que a maior parte do funding virá da sua lavra – leia-se as operações de financiamento já engatilhadas com um pool de instituições de seu país, a começar pelo China Development Bank. Como instrumento de pressão, os chineses já sinalizaram aos dirigentes da Camargo Corrêa que, na paralela, abriram conversações com a OHL e a Isolux, que substituiriam a construtora brasileira no consórcio. Procurada pelo RR, a Camargo Corrêa limitou-se a informar que não integra qualquer consórcio com a CRCC. Perguntada se o termo de acordo firmado em julho foi desfeito e se as conversações com os chineses estão definitivamente interrompidas, a empresa não se pronunciou. De acordo com as mesmas fontes, a abrupta mudança no posicionamento da CRCC pode ter ligações com o recente caso protagonizado pela companhia no México. Há cerca de duas semanas, o governo mexicano cancelou uma licitação vencida pelos chineses para a construção de uma linha férrea entre a Cidade do México e Querétaro, na região central do país. Além da perda do negócio, o grupo ainda viu escorrer pelo ralo algumas dezenas de milhões de dólares que desembolsou em estudos técnicos de viabilidade. É possível que o episódio tenha descarregado na corrente sanguínea dos asiáticos uma boa dose de desconfiança em relação a  América Latina. No entanto, diante das circunstâncias, línguas mais ferinas destilam a tese de que a CRCC teria deliberadamente criado uma situação de impasse para forçar o fim das negociações e manter prudente distância da Camargo Corrêa.

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