Dilma precisa que Lula volte a ser Lula

  • 8/10/2014
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Para muitos, nunca houve PT vs. PSDB, mas, sim, Lula contra Fernando Henrique Cardoso. Neste caso, se o sexto round disputado entre ambos desde 1994 terminasse agora, FHC venceria por pontos. Até o momento, o tucano vem ganhando o duelo como principal cabo eleitoral desta campanha. Por ora, Lula não achou o tom. Não colou em Dilma tanto quanto prometia e, quando o fez, deixou a desejar. Na avaliação da própria campanha petista, suas três últimas aparições com a presidente da República em eventos públicos foram desoladoras. No encontro com artistas realizado no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro, em meados de setembro, Lula chegou a constranger a militância com o excesso de piadas sem graça. Foi de se estranhar também sua ausência na plateia no último debate entre os candidatos, na quinta- feira passada. Em contrapartida, a presença de FHC nos estúdios permitiu a Aécio cumprimentá-lo ao vivo, em uma mesura calculada e oportunista, feita em causa própria. No núcleo de campanha de Dilma Rousseff, a expectativa é que Lula se aprume. João Santana e Franklin Martins não enxergam nas hostes petistas nenhum outro personagem capaz de vocalizar o discurso de que a oposição está emporcalhando a disputa eleitoral. Em suas falas, Dilma não transmite a veemência e a indignação necessárias para responder a  altura a s acusações de malfeitorias do governo. Falta-lhe aquela cólera dos políticos de nascença, que bradavam as palavras como se desferissem raios. Os próprios marqueteiros de Aécio identificaram que ela se sai mal quando é obrigada a se expor numa situação de agressividade. No vídeo, Dilma aparenta ser mais mal-humorada do que zangada. Não por acaso, Aécio treinará insistentemente situações de ataque para os próximos debates televisivos, o que só aumenta a necessidade de Lula voltar a  velha e boa forma. É hora de chamar a cavalaria para pelejar junto com a presidenta. Do seu lado, FHC tem demonstrado que a UDN está no seu sangue, assim como corria nas veias de seu pai, o general Leônidas Cardoso. Desde o início da campanha, o ex-presidente comprou e disseminou a tese da criminalização do PT. Na última segunda-feira, no mais ferino e destrutivo estilo Carlos Lacerda, o corvo deu mais uma de suas bicadas ao dizer que a expressiva votação de Dilma veio dos eleitores mal informados. FHC vale-se ainda do dom da onipresença. Diferentemente de Lula, ele está em todos os lugares: escreve artigos, dá palestras, concede entrevistas, mantém intensa aparição em eventos políticos. Talvez o melhor debate desta campanha fosse entre os dois líderes partidários, que tão bem caracterizam as linhas políticas hegemônicas nesse país. Seria notável ver novamente e a esta altura do campeonato ambos se digladiando em um duelo ao melhor estilo “parece que foi ontem”. Essa disputa não acabou. Nunca acabará.

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