CBA e Alcoa soldam suas chapas de alumínio

  • 12/09/2014
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Se, em 4 de junho de 1955, na inauguração da fábrica da CBA, Antônio Ermírio de Moraes fosse questionado sobre a possibilidade de um dia vender a companhia, o promissor empresário, então com 27 anos, soltaria uma série de impropérios. Mesmo sem o viço da juventude, certamente repetiria a enérgica reação se a pergunta reaparecesse na tarde de 14 de outubro de 2004, quando era orgulho puro ao anunciar o investimento de US$ 400 milhões que permitiu a  empresa atingir uma produção 100 vezes superior a  que tinha em sua fundação. Mas, ao que tudo indica, o tempo da CBA durou o tempo de Antônio Ermírio, ao menos como um negócio controlado integralmente pela família. Numa espécie de tributo a s avessas a  memória do empresário, a companhia está sobre o balcão. Seus herdeiros negociam a associação dos ativos de alumínio da Votorantim Metais com a Alcoa Brasil. Segundo o RR apurou, as conversações estão bastante adiantadas. A operação colocaria sob o mesmo teto o histórico smelter da CBA em Alumínio (SP), a fábrica que virou cidade, e as duas plantas do grupo norte-americano localizadas em Poços de Caldas (MG) e São Luís (MA). Procuradas, Votorantim e Alcoa negam, em coro, as negociações. Estranho seria se confirmassem. Trata-se de um negócio de números superlativos. CBA e Alcoa se consolidarão como o maior grupo do setor no Brasil, com faturamento da ordem de R$ 6 bilhões e algo em torno de 54% de toda a produção nacional de alumínio. Hoje praticamente empatada com a empresa dos Ermírio de Moraes, a Albrás será a grande perdedora: ficará bem distante do topo, com 31% de market share. A associação criará ainda um gigante na área de energia. Juntas, CBA e Alcoa vão controlar o terceiro maior parque gerador privado do país, atrás apenas da Tractebel e da AES Tietê. A dupla reúne participações em 22 hidrelétricas, com capacidade total de dois mil MW. Hoje, o grupo norte-americano tem autossuficiência energética de quase 100% no país. A CBA, por sua vez, produz aproximadamente 70% do insumo que consome, índice bem superior a  média mundial, de 28%. Em tempos de cotações do alumínio em baixa e de disparada nos preços da energia no mercado spot, esta miríade de usinas é um ativo tão valioso quanto os próprios smelters. Difícil descobrir o que mais empurra Alcoa e CBA uma na direção da outra: se as notórias sinergias entre ambas ou as agruras em comum. Os altíssimos custos de produção de alumínio, combinados a  depreciação do produto, têm sangrado os resultados das duas empresas. Nos últimos três anos, a Alcoa perdeu mais de R$ 270 milhões no país. Os Ermírio de Moraes levam sobre os ombros números ainda mais dramáticos: no mesmo período, os prejuízos acumulados pela CBA passam dos R$ 700 milhões. Nos dois casos, o rombo seria ainda maior não fosse exatamente a venda de energia para terceiros. Diante das circunstâncias, as duas companhias se viram obrigadas a passar a navalha na própria carne. A Votorantim reduziu sua produção de alumínio em 20%. No caso da Alcoa, o talho foi ainda mais profundo. Em pouco mais de um ano, a companhia anunciou dois grandes cortes de produção, com o fechamento de linhas industriais tanto em Poços de Caldas quanto em São Luís. Calcula-se que, atualmente, os norte-americanos operem com menos de 25% da capacidade instalada no Brasil.

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