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Nem Engov alivia a dor de cabeça da AmBev

  • 21/05/2014
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A AmBev vive seu annus horribilis. Acostumada a colecionar resultados invejáveis e trabalhar com expectativas crescentemente favoráveis, a companhia já antecipa uma ressaca no seu porvir. Os motivos para essa sensação de náusea são variados: sucessivas quedas de market share, iminente perda de rentabilidade na esteira do inevitável aumento da tributação sobre o setor e o risco cada vez maior da inclusão de imagens impactantes nos rótulos de bebidas alcoólicas. Está escrito nas estrelas que as garrafas e latas de cerveja virão acompanhadas de ilustrações que remetem a desastres de carro, tetraplegia, cirrose, violência doméstica, entre outras situações que associam o consumo de bebida ao sofrimento humano. A AmBev lida com essa perspectiva de dias menos prósperos e virtuosos ainda embriagada pelos resultados positivos, além da promessa de muita espuma na Copa do Mundo. No primeiro trimestre do ano, a empresa reportou lucro de R$ 2,6 bilhões, um aumento de 9,5% sobre igual período em 2013. Parece um desempenho muito alvissareiro, mas não é, devido a  modesta base de comparação: entre janeiro e março do ano passado, os ganhos subiram apenas 1,3%. Por ser uma empresa-baleia, parece que a AmBev só faz crescer. Mais uma vez, as aparências enganam. As concorrentes no Brasil têm mordido pedacinhos da cervejeira ano após ano. No início dos anos 2000, a AmBev chegou a ter mais de 72% das vendas de cerveja em todo o país. Os adversários, contudo, foram se fortalecendo, particularmente a dupla Petrópolis/Kirin. De 2011 para cá, somente a fabricante da Itaipava comeu um ponto percentual de market share da líder do setor. Para se ter uma ideia do que representa essa canibalização, apenas entre 2011 e 2013, a fatia de mercado da AmBev recuou de 69,5% para 67,5%. Parece pouco. Nova ilusão. Cada ponto percentual perdido equivale a quase R$ 200 milhões a menos no copo. Esse horizonte bastante nublado tem piorado ainda mais o ambiente no “chão de fábrica”. O modelo de gestão e produtividade da AmBev, decantado nos MBAs da vida, é ótimo para o andar de cima, mas horrível para o pessoal da “senzala”, como os funcionários se referem a si próprios. As exigências para a geração de resultados criam um estado emocional danoso, responsável pela máxima de que quem está fora dá um dedo para entrar na AmBev, mas quem está dentro dá um braço para sair. a€ exceção, claro, dos maganos bem abonados, que só tomam a cerveja geladinha. Não é a  toa que a empresa não publica demonstrações de turnover e muito menos dos problemas de ordem médica entre seus trabalhadores. Na companhia, há quem diga, com humor sardônico, que trabalhar na Am- Bev é bom, mas faz mal a  saúde. A verdade é que a AmBev é um case de antidistributivismo que poderia muito bem ser citado por Thomas Piketty, autor de uma obra-prima sobre a concentração de renda pelos mais ricos. A divina trindade Lemann, Telles e Sicupira criou um marketing imbatível e se inebria com a fama de gestores excepcionais. Por trás de toda essa serpentina, existe muito desgaste, desgosto e até desespero por aqueles que carregam a empresa nas costas. No dia seguinte, podem nem sequer acordar empregados da companhia. Afinal, Lemann prega a seguinte visão social: “Gente é como coelho: se multiplica drasticamente. Só há uma saída: tem de cortar, cortar, cortar…”

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