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Iberdrola sente o veneno da perfídia na NeoEnergia

  • 23/08/2010
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Quem vê a performance do presidente da NeoEnergia, Marcelo Corrêa, nas reuniões internas e nas conversas com advisers para discutir uma eventual aquisição da Elektro até pensa que ele trabalha para a Iberdrola. Bem, formalmente, até trabalha. No entanto, entre os executivos do grupo espanhol, há cada vez mais dúvidas ? ou seriam certezas? ? em relação a  lealdade, a  postura e a s pretensões de Corrêa. Aos olhos da Iberdrola, o executivo é um pêndulo que se movimenta sempre na mesma direção, a favor dos interesses da Previ e, por extensão, do Banco do Brasil, sócios minoritários da NeoEnergia. Corrêa estaria trabalhando a  margem da Iberdrola em questões viscerais para a companhia, desde a definição do plano estratégico até mesmo a  possibilidade de fusão com outra empresa de energia. Visto como um executivo ardiloso e extremamente hábil, além de profundo conhecedor do setor, Marcelo Corrêa sempre se portou como um algodão entre cristais. Mesmo em períodos de crise de relacionamento entre Previ e Iberdrola, e não foram poucos, manteve insuspeita equidistância de ambas. Teatro na acepção mais traiçoeira da arte. A maior afinidade com a Previ é um débito pela sua nomeação. Os espanhóis sempre foram ludibriados com a ideia de que tinham a última palavra. Um momento de tensão ocorreu há cerca de dois meses, durante as tratativas para o ingresso da Neoenergia no consórcio vencedor de Belo Monte. Corrêa trabalhou com afinco a favor da operação, a despeito do restrito apetite da Iberdrola pelo investimento. Entre os sócios, ninguém fez mais força pela presença da NeoEnergia em Belo Monte do que a Previ, que, desta forma, usaria a empresa como anteparo para investir na hidrelétrica. No entanto, o maior ponto de fricção diz respeito a  possível associação da NeoEnergia com outra empresa do setor, projeto que está no radar da Previ. Todos os caminhos apontam na direção da CPFL, da qual a fundação também é acionista. O fundo, para não dizer o próprio governo, é o principal entusiasta da operação, que criaria uma das dez maiores distribuidoras de energia do mundo. Marcelo Corrêa vem mantendo uma intensa agenda de conversas com a direção da Previ sobre o projeto, sem o devido mandato da Iberdrola. A bola rola e, no entendimento dos espanhóis, o executivo joga o jogo da fundação. Ao contrário da Previ, a Iberdrola não está tão convencida assim das vantagens de uma eventual associação com outro grupo no país. Não nas condições que se anunciam, sobretudo em negociações que são urdidas por trás dos panos e deixam no ar um cheiro de perfídia e infidelidade. Os espanhóis têm sérios motivos para acreditar que a Previ faria o que estivesse ao seu alcance para diluir a participação da Iberdrola no negócio, tornando-se uma das principais acionistas da nova empresa. Marcelo Corrêa já escolheu de que lado da calçada andar, é claro. Resta ver se os espanhóis toureiam o rapaz ou vão virar chouriço na charcuteria da Previ.

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