Acervo RR

Venda da Ampla está cheia de fios desencapados

  • 5/03/2010
    • Share

A viagem do presidente da Cemig, Djalma Morais, a  Itália para negociar a compra da Ampla periga ser uma enorme perda de tempo e de dinheiro. Pelo menos no que depender dos antigos controladores da Endesa, hoje acionistas minoritários da companhia. A venda da distribuidora fluminense esbarra nos atritos entre os sócios do grupo espanhol, um fio difícil de ser encapado. De acordo com uma alta fonte da Cemig no Brasil ouvida pelo RR – Negócios & Finanças, existe uma forte pressão dos sócios espanhóis contra a operação arquitetada pela Enel. Os italianos querem se desfazer não apenas da Ampla, mas de todos os ativos da Endesa no Brasil, que incluem ainda a Coelce, a Cien, a hidrelétrica de Cachoeira, em Goiás, e a termelétrica Fortaleza. Não obstante deter menos de 10% da Endesa, este grupo de acionistas espanhóis não é formado por simples minoritários. Na condição de ex-participantes do bloco de controle, eles têm poder para interferir em decisões estratégicas graças a uma série de amarras contratuais que foram criadas na venda da companhia para a Enel. As faíscas em torno da negociação da Ampla não ficam restritas a s fronteiras societárias da Endesa. A operação é um assunto de Estado. Depende também de uma intrincada costura diplomática entre Itália e Espanha. Por conta da complexa fiação societária do grupo, o governo espanhol ainda mantém influência nos destinos da Endesa. O gabinete de José Luis Zapatero já sinalizou ser contrário a  venda da Ampla e, mais ainda, de todos os ativos do grupo no país. Para os espanhóis, deixar o promissor mercado brasileiro é um equívoco do ponto de vista geoeconômico. A percepção é que a Enel não está pensando de maneira estratégica e seu único objetivo, de curtíssimo prazo, é cobrir perdas financeiras na Europa. Não custa lembrar que existem arestas nas relações entre os governos de Espanha e Itália por conta de outra negociação envolvendo dois dos maiores símbolos empresariais de cada país: Telefónica e Telecom Italia. Por conta desta eletrificada relação com os espanhóis, a Enel tem feito jogo de cena. Há cerca de um mês enviou um comunicado a executivos da Endesa no Brasil desmentindo o interesse em vender a Ampla e os demais ativos e deixar o país. Fez também uma tour de force na imprensa com o mesmo objetivo. Pura dissimulação. De acordo com a mesma fonte, nos bastidores, os italianos têm se articulado para forçar a aprovação da venda da Ampla na próxima reunião do Conselho da Endesa, em Madri. Talvez Djalma Morais seja obrigado a incluir a capital espanhola em sua ida a  Europa.

Leia Também

Todos os direitos reservados 1966-2024.

Rolar para cima