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É grande a possibilidade de Murilo Ferreira vir a ser mais lembrado como presidente do Conselho de Administração da Petrobras do que como presidente executivo da Vale. Nenhuma ressalva a sua gestão a frente da mineradora. Muito pelo contrário: entre as grandes companhias do setor, a Vale é quem tem feito o dever de casa com mais afinco. Mas o que está para ocorrer na Petrobras, sob a égide de Ferreira, vai ficar nos livros. A empresa anunciará em breve, breve, o maior plano de desinvestimento jamais realizado no setor, um pacote capaz de tornar risíveis os U$ 13 bilhões com os quais o presidente da estatal, Aldemir Bendine, brindou o mercado na sua chegada ao comando da estatal. Mas por que é Ferreira e não Bendine quem vai empunhar o cetro dessa empreitada? Simplesmente porque o protocolo está sendo seguido. Bendine, cujo bom trabalho é reconhecido, fortaleceu o Conselho de Administração no seu papel de balizador das diretrizes da companhia e tem reduzido o poder da diretoria executiva. Ferreira facilitou a liturgia, emprestando a força da sua autoridade ao cargo de presidente do Conselho. O Plano de Negócios e Gestão (PNG) 2015/19 – que deverá ser um marco da competência administrativa para alguns, e um brutal banho de sangue para outros – foi embrulhado por Bendine, mas teve seus laços extremamente apertados por Ferreira, que pediu uma redução drástica dos gastos projetados. Tudo soa demasiado no projeto. As demissões em massa têm um número previsto entre 70 mil e 100 mil pessoas. Os cortes serão principalmente de funcionários terceirizados. Causa arrepio na companhia a lembrança do último empréstimo feito quase que inteiramente para pagar gastos de custeio – por pouco não foi possível quitar a folha salarial. Mas sobrará também para a prata da casa. E a reestruturação deverá eliminar muitos cargos comissionados. As desmobilizações também surpreenderão o mercado: de unidades do parque de refino a BR Distribuidora, passando pelos ativos de gás a participação em campos petrolíferos. As novas refinarias também vão todas para o beleléu. Os números podem chegar a US$ 100 bilhões. Procurada pelo RR, a Petrobras afirmou que ainda não há uma data definida para a divulgação do novo PNG. Consultada sobre o número de demissões e a meta para o programa de desmobilização de ativos, a estatal não quis comentar. Murilo Ferreira considera fundamental esse choque de expectativa, pois o mercado não está acreditando que o governo fará uma política de reajuste dos preços dos combustíveis alinhada com a realidade. E faz bem mesmo em não acreditar. A independência de Ferreira como presidente do Conselho da estatal tem limites bem nítidos e a ortodoxia da política econômica vai até onde doem os calos do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ou seja, até o ponto em que não existe uma pressão maior sobre a inflação. Na diretoria da companhia há quem diga, a título de chiste, que o PNG deveria ser apresentado no ainda inabitável Centro Empresarial Senado, conjunto de prédios vizinho a sede na Av. Chile e futura casa do alto comando da Petrobras. Seria mais do que provocativo, seria simbólico o anúncio de tamanho talho na empresa ser feito fora da sua moradia histórica. Em tempo: as fontes do RR são das áreas financeira e de estratégia corporativa da própria estatal.
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