Somente o dedo do dono pode salvar a Petrobras

  • 20/01/2016
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  O ex-ministro Delfim Netto deveria ser convocado para explicar o impacto das externalidades no planejamento da economia brasileira. Tanto ele quanto Mario Henrique Simonsen pagaram o preço de não terem antevisto o choque dos preços do petróleo e a brutal elevação dos juros norte-americanos conduzida pelo então presidente do Fed, Paul Volcker. Os dois eventos escangalharam com a economia do país por um tempo bem maior do que promete a efeméride de Dilma Rousseff. O paralelo que se faz hoje em relação às externalidades é com a agônica Petrobras .   A empresa é acusada de incompetência por não ter adivinhado a queda do petróleo para o valor irrisório de US$ 30 – as novas projeções rebaixam o preço a inacreditáveis US$ 20 (durante o período de 2002 a 2014, a cotação média foi superior a US$ 60 e, em 2014, chegou a US$ 104). É bombardeada pelo episódio da Lava Jato, uma máfia de três ou quatro diretores, com extensa capilaridade junto a fornecedores e políticos, cuja responsabilidade não pode ser atribuída à corporação, e por planos de negócios avantajados, todos aprovados por um conselho composto por alguns dos mais renomados empresários e técnicos do setor privado. Estes, assim, como os demais integrantes da estatal, não conseguiram profetizar a mudança de parâmetros fundamentais ao planejamento dos investimentos, a exemplo do câmbio (a média da cotação do dólar entre 2002 e 2004 foi pouco superior a R$ 2,00, distante dos mais de R$ 3,00 que vigoram de 2014 para cá) e do PIB (em 2002, o crescimento do PIB estava em 3,1% e, no ano de 2013, em 3%, com um avanço médio de 3,7% no período, contra prováveis 3% negativos em 2015).  O governo errou muito, sem dúvida. Mas boa parte foram erros velhos, nem por isso perdoáveis, a exemplo do uso do controle de pre- ços dos combustíveis para segurar a inflação – todos os governos anteriores usaram da mesma prática. Erro de novíssima geração foi a participação compulsória da estatal em 30% de todos os projetos no pré-sal. A obrigatoriedade de conteúdo nacional, apontada como obtusa, contraditoriamente foi festejada por industriais e financistas no momento da sua aprovação. O fato é que a Petrobras está aos cacos, e parlamentares, economistas e empresários, no limite da irresponsabilidade, insistem que o problema é dela; e ela que se dane. Ou seja: a companhia não seria uma responsabilidade também do governo, do Estado e do povo brasileiro.  O RR tem dito diversas vezes que a maior empresa do país e também maior agência contratante de mão de obra e compradora de equipamentos, além de braço para interiorização econômica, necessita de um plano com quatro vertentes: corte de gastos, redução de investimentos, desmobilização de ativos e capitalização. É este ultimo componente, talvez o mais importante, que tem sido dizimado pelos críticos. Ao contrário do que dizem, a Petrobras pode, sim, ser capitalizada sem qualquer impacto na dívida bruta da União.  A operação consistiria na criação de uma Sociedade de Propósito Específico pelo Tesouro no exterior. O governo capitalizaria esta SPE com alguma parcela de reservas cambiais. Com esses recursos, seriam compradas dívidas de curto prazo da estatal, que passariam a integrar o ativo da SPE. Ela poderia negociar os financiamentos por linhas de longo prazo. A Petrobras, por sua vez, teria uma brutal redução do seu custo financeiro. O segredo de polichinelo seria a cura do fetiche de que as reservas são intocáveis. Ora, se são intocáveis, para que, então, ter reservas?

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