O crescimento do PIB na marcha lenta das baratas

  • 25/11/2015
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 São enormes as diferenças entre o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e o atual, Joaquim Levy. Mas pelo menos duas características os unem: ambos têm uma paciência de Jó e a resistência das baratas. Mantega foi demitido do cargo pela imprensa dia, sim, dia, não, na gestão do ex-presidente Lula. No primeiro mandato de Dilma Rousseff, as menções a sua troca aumentaram para dia, sim e o outro também. E, mesmo quando destituído de direito, Mantega ficou cumprindo com galhardia o mandato tampão até a chegada de Levy.  Ungido como salvador, o antípoda de Mantega ingressa no mais eletrizante movimento de sístole e diástole da economia-política brasileira. Nunca os fatos se contraditaram tanto. Em meio a impeachment, rebeliões do Congresso, fogo amigo, puxão de tapete do ministro do Planejamento, milhares de supostas cartas de demissão e a breve e aparentemente irresistível candidatura ministerial de Henrique Meirelles, Levy foi se tornando o ministro do gerúndio. E foi ficando, ficando, ficando… Em meio às condições mais adversas no Congresso, descobriu na prática que o timing da política não é o mesmo dos livros-textos. O voluntarismo de Levy foi derretendo, derretendo, derretendo…  O tempo fez de Levy um profissional mais cascudo. O fato de ser indesejado, mas necessário, O crescimento do PIB na marcha lenta das baratas moldou sua personalidade. Surge, então, o Sr. Gerúndio, aceitando, aceitando e aceitando o meio termo das inevitáveis negociações. É esse ministro que não sai, nem fica, que enfrenta as indecisões planaltinas, a começar sobre a sua própria permanência à frente da Fazenda, o vômito de fogo dos surfistas do mercado, a covardia de tucanos oportunistas – Arminio Fraga é um exemplo irresistível – , o desconforto com a sua bula, a raiva dos seus vaticínios de pobreza e a recusa a sua ortodoxia. Mas Levy vai levando. Talvez inspirado no ex-ministro Roberto Campos, que, ao evoluir do regime militar, no qual fazia e acontecia, para a democracia plena, aprendeu que ceder é uma forma de ganhar. Campos dizia que, em seus projetos no Parlamento, pedia 100% para levar 40%, satisfeitíssimo. Levy tem angariado menos. Mas o pouco que ganha, devagar e sempre, parece um avanço nas atuais circunstâncias. A não ser que o país derreta, ninguém implementará os remédios draconianos receitados pelos beatos e profetas. É razoável, assim, que o Brasil, cujo avanço do PIB foi superior a 7% durante 75 anos, venha a encontrar um crescimento de 1% daqui a três anos, após uma doída dieta e extirpação de órgãos. É o possível agora: a conta exata da paciência de Levy. As baratas são indeléveis.

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