Há fendas no cimento do Grupo João Santos

  • 13/03/2015
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Das duas uma: ou os herdeiros do industrial pernambucano João Santos deixam suas veleidades de lado e selam um pragmático armistício ou correm o risco de brigar até o último de seus dias por um punhado de farelo de calcário. Enquanto os filhos e netos do saudoso empresário se estapeiam pelo controle dos negócios, o Grupo João Santos mergulha num lento, gradual e nada seguro processo de erosão. O que está em jogo é o futuro de uma das maiores sagas empresariais do Nordeste e, mais especificamente, da sua operação de cimento, leia-se a Itabira Agro Industrial, responsável por quase 60% do faturamento do conglomerado – em torno de R$ 3 bilhões. Nos últimos dois anos, a companhia, fabricante do cimento Nassau, teria perdido algo perto de dois pontos de market share, em grande parte devido a atrasos na execução de investimentos e projetos de expansão – efeitos colaterais das disputas societárias travadas desde 2009, ano da morte do patriarca. Os pilares do Grupo João Santos são sólidos, não há dúvida alguma. No entanto, a situação da empresa no mercado tende a se complicar nos próximos meses com a esperada dança das cadeiras na indústria cimenteira nacional, uma coreografia executada sob a trilha sonora do Cade. Os herdeiros de João Santos estão ameaçados de acabar o baile sem lugar para sentar e com os pés pisoteados. Além da condenação por formação de cartel e da obrigatoriedade de vender ativos, o grupo foi abalroado pela fusão entre Lafarge e Holcim. A operação representou uma dupla derrota para os pernambucanos. A primeira delas veio com o próprio anúncio da associação: a dobradinha franco-suíça tomou o terceiro lugar no ranking do setor, empurrando a Itabira Agro Industrial para fora do pódio. O segundo revés veio com a decisão do Cade, que condicionou a fusão entre Lafarge e Holcim a  venda de 30% da capacidade instalada das duas empresas. Quem comprar estes ativos passará a ter aproximadamente 6% do mercado. Na hipótese de que um novo competidor entre em cena, fala-se na mexicana Cemex, ele já chegará triscando nos calcanhares do Grupo João Santos, detentor de 9% de market share – número este que cairá para menos de 8% quando a empresa se desfizer de ativos para atender a  punição imposta pelo Cade. O RR fez diversos contatos com o Grupo João Santos, mas a companhia não retornou até o fechamento da edição. Se, no front externo, as condições de mercado são cada vez mais hostis ao Grupo João Santos, dos muros para dentro os conflitos se acirram. O embate entre os acionistas seria protagonizado por Fernando Santos, filho mais novo e sucessor de João Santos na presidência das empresas, e sua irmã Ana Maria. Consta que a terceira geração da família defende a venda da operação do cimento do grupo, temendo uma depreciação dos ativos no médio prazo. Ocorre que as condições atuais do setor não favorecem o negócio. Além das amarras impostas pelo Cade para que os grandes grupos façam novas aquisições – o próprio Grupo João Santos também é um dos penalizados -, as vendas de cimento têm caído sucessivamente. No passado recente, quando as circunstâncias eram mais oportunas, Camargo Corrêa e a própria Cemex chegaram a manifestar interesse na Itabira (ver RR nº 4.493). Teriam esbarrado numa parede de concreto chamada Fernando Santos.

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