Vai começar a guerra suja entre Bolsonaro e Moro

  • 27/04/2020
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Sérgio Moro demorou demais para pedir demissão. Engoliu todos os sapos. Mas a decisão do presidente Jair Bolsonaro de demitir o diretor da Polícia Federal, Mauricio Valeixo, e colocar no escaninho das incertezas um pedido do ministro dado como certo, soou como uma pá de cal na sua permanência. Detalhe: Valeixo era personagem central na investigação de Carlos Bolsonaro como um dos principais articuladores das fake news. Na véspera da decisão fatídica, Moro cobrou a garantia de que sua vaga no Supremo estava acertada.

Afinal, faltam poucos meses para a troca de um juiz da Corte. Ouviu que a indicação para a primeira vaga do STF, leia-se a substituição de Celso de Mello, em novembro, estava fora de cogitação – e a segunda vaga (Marco Aurélio Mello, em junho de 2021) “será analisada na devida circunstância”. Não fossem essas as respostas, talvez comesse da farinha do desprezo por vários meses ainda. Moro encerra sua passagem pelo desastroso governo Bolsonaro para trilhar uma trajetória política escrita por ele há muitos anos: a disputa da Presidência. De um lado, tem a seu favor a opinião pública. Por outro, sempre esteve nas graças da mídia. Com os amplos apoios que já possui e a construção de um arremedo qualquer de base partidária, Moro está vestido com as armas de candidato à disputa pela Presidência em 2022.

Tem documentos e horas de conversas gravadas no seu celular que não o deixarão ser esquecido até a campanha eleitoral. Se cravar a estaca no coração do “vampiro”, ou seja, se Bolsonaro for impichado, se gabarita como o principal candidato do certame. Mas, do outro lado da cerca, está a cruz. O calvário de Moro serão vazamentos da pior espécie, atacando sua moral e princípios. Em parte, vai experimentar uma dosagem do próprio remédio. A Polícia Federal, agora com “novo chefe”, tem milhares de horas de gravação de conversas do ex-ministro. O gabinete do ódio vai funcionar feericamente.

Alguém tem dúvidas? Uma inacreditável e oportuna pororoca entre petistas e bolsonautas é bastante plausível. Na última sexta-feira, nas análises das redes, 17% da pancadaria no lombo de Moro vieram das hostes petistas. No Congresso, não se deve esperar muita simpatia por Moro. Há ainda muito rancor e ressentimento devido à Lava Jato. Da forma como saiu, atirando com calibre 12, tudo indica que tem farta munição entre documentos e conversas. Se for frio como aparenta ser, pode se tornar o grande catalisador da posse de um general de quatro estrelas na Presidência. A hipótese Hamilton Mourão seria apenas um rito de passagem. O mais provável é que, se isso ocorrer, Moro já esteja lá na frente, com um pé nas urnas e o outro no Palácio do Planalto. A promessa é de uma guerra cheia de golpes baixos.

#Jair Bolsonaro #Sérgio Moro

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