Impeachment escancara as muitas derrotas de Katia Abreu

  • 20/04/2016
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 Churchill costumava dizer que a política é tão perigosa quanto a guerra, com a vantagem de que, nesta última, só se morre uma vez. A partir de agora, a maior preocupação da ministra Katia Abreu é evitar que a excessiva fidelidade a Dilma Rousseff lhe custe outros óbitos políticos, seja dela própria, seja de seus herdeiros. A corrosão no relacionamento com o PMDB e com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), da qual Katia é presidente licenciada, enfraquece consideravelmente os planos de seu filho, o deputado federal Irajá Abreu (PSD), de disputar a prefeitura de Palmas neste ano. Mais do que isso: ameaça a própria candidatura de Katia ao governo do Tocantins em 2018.  Katia Abreu sempre contou com uma coalizão entre o PMDB e o PSD para alavancar a candidatura de Irajá. Agora, esta aliança é tão incerta quanto a própria permanência de Katia nas fileiras peemedebistas. A ligação siderúrgica com a presidente da República lhe valeu um enorme desgaste junto à cúpula do partido, a começar por Michel Temer e Romero Jucá. Jucá não tolera Katia e a recíproca é absolutamente verdadeira. Foi o senador que enviou à direção do PMDB o pedido de expulsão da ministra da Agricultura do partido após sua decisão de permanecer no governo. Difícil imaginar que uma eventual candidatura de Katia Abreu ao governo do Tocantins decole numa outra legenda. Dos últimos cinco governadores eleitos do estado, quatro saíram do PMDB.  No caso da CNA, a situação de Katia Abreu é ainda mais delicada. Nos últimos dias, a ministra da Agricultura confidenciou a interlocutores que se sentiu traída pela entidade e pelo seu presidente em exercício, João Martins. A rigor, no entanto, se há alguém que mudou de lado foi a própria Katia. Os ruralistas estão onde sempre estiveram. Paciência se Michel Temer foi muito mais hábil em oferecer açúcar às formigas. Deu no que deu. Durante o fim de semana, segundo o RR apurou, a cúpula da CNA teria levado a Brasília cerca de 500 ônibus com agricultores e manifestantes para protestar contra o governo Dilma e engrossar o coro a favor do seu impedimento. Nos três dias que antecederam a votação na Câmara, João Martins realizou uma série de encontros na capital para galvanizar adesões ao afastamento da presidente da República. O último e mais concorrido desses eventos foi um almoço no sábado, com cerca de 80 deputados. O ápice viria no domingo à noite. Tomando-se como base a chamada Frente Parlamentar Agropecuária, que reúne produtores rurais e agregados, apenas 35 dos seus 215 integrantes votaram contra o impeachment da presidente. O índice de apoio a Dilma, de apenas 16%, ficou bem abaixo da contabilidade geral: 26%.

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