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Política
O povo da esquerda teria um motivo para estar efusivo: José Dirceu está livre e solto, pronto para ossificar um PT em estado mucilaginoso. A anulação de todas as suas condenações só não causou maior frenesi porque o partido está carpindo a morte das suas expectativas eleitorais. Mas, logo o luto vai passar, ao contrário de José Dirceu, que voltou para ficar. A esquerda mais ingênua e juvenil julga que o ex-guerrilheiro virá com a cara pintada para a guerra.
Seu objetivo primordial seria rearticular o partido em torno das velhas bandeiras e bolsões, que foram aposentados, por caduquice ou pela incompetência de lidar com um presidencialismo de coalizão – ou de Centrão – ou mesmo pelo pragmatismo acentuado de Lula. O presidente, dependendo da moeda de troca política, não tem qualquer prurido em negociar – ou mesmo apoiar – os pleitos da centro-direita e da direita. Nada muito diferente do principal estrategista do PT. O Dirceu idealizado pela esquerda é hoje pura ficção. Os petistas da antiga sabem que ele consegue ser até mais pragmático do que Lula.
De um jeitinho que faz seu discurso parecer a retórica de uma esquerda tônica, Dirceu já disse que o partido se distanciou das bases; não conseguiu atrair outros segmentos para uma nova sindicalização; deixou a classe média à míngua; não entendeu que o assistencialismo seria incorporado como algo já dado e velho e sem impacto eleitoral; não se preparou para dominar a ferramenta digital, uma espécie de eleitor virtual; que há uma aliança no horizonte com a centro-direita, inclusive para dividi-la; e que é preciso, urgentemente, encontrar ou criar novas lideranças. Dentro do próprio PT ou mesmo junto a aliados com poder político – ver RR.
A partir de agora, os movimentos de José Dirceu – políticos e geográficos – dizem muito. Na última terça-feira, dia 29, Dirceu esteve no Rio de Janeiro. A cidade é um lócus importante de articulações para 2026, precisamente por um personagem. No cenário de alianças mais ao centro, um dos nomes que desponta no tabuleiro de hipóteses é o do prefeito do Rio, Eduardo Paes. Faz todo sentido. O PT foi um dos eleitores de Paes na sua esmagadora vitória eleitoral no Rio. O prefeito é jovem, carismático e trabalhador. Se entrelaçar suas pernas com a centro-direita, especificamente no Rio, e afinar o discurso, o PT pode criar, notadamente para dentro de suas próprias fileiras, um sentimento de que quem mudou foi Paes e não os fundamentos ideológicos da legenda. O prefeito é um dos candidatos mais aptos do Brasil para ganhar a vaga de governador na próxima eleição. Quem sabe pode vir até a ser o candidato do partido à Presidência da República – “um Tarcísio Freitas do PT”.
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