Benjamin faz discurso de estadista na Fiesp

  • 18/08/2010
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O comitê de campanha da candidata Dilma Rousseff gastou uma parte do tempo, ontem, discutindo não o resultado da pesquisa do Ibope ou as declarações do adversário José Serra, mas o petardo provindo da Fiesp. As declarações de Benjamin Steinbruch, com ênfase na proposta de contenção das importações por prazo específico, são o rugido de um tigre que parecia afônico e banguela. A Fiesp voltou ao jogo do poder. Esse pelo menos foi o sentimento das bases industriais, que inundaram a entidade de parabenizações e manifestações de apoio. O sentimento geral era o de que Benjamin reencarnou Roberto Simonsen, trazendo para o tabuleiro da política um velho estereótipo de guerra, ou seja, o de que banqueiro pensa de um jeito, empreiteiro de outro, e o industrial diferente dos dois. Na prática do governo Lula, o que ocorreu durante os sete anos foi que os banqueiros se viram representados no Banco Central, os empreiteiros, primeiramente com José Dirceu e depois com o próprio presidente, e os industriais com o ministro Miguel Jorge, o que significa um desnível maior do que o Grand Canyon. As bandeiras da Fiesp, a  exceção da campanha contra a CPMF, foram minúsculas para a tradição da entidade. Uma fonte muito ligada a Benjamin disse que o barão do aço jogou uma carta alta na mesa apenas para abrir a negociação. Pode ser. Mas, com este procedimento, ele mobiliza a voz rouca dos fabricantes, trazendo para a luta do câmbio um bolchevismo industrial. Por uma dessas aparentes coincidências, Benjamin Steinbruch cutucou a metástase das importações no mesmo dia em que um Prêmio Nobel, o economista Paul Krugman, em seu artigo no New York Times, desceu a borduna na permissividade dos Estados Unidos em suas relações comerciais com a China. E propôs exatamente o que o condutor sem Nobel da Fiesp defende: contenção das compras externas por um tempo por meio de tarifas, cotas ou barreiras aduaneiras, ou seja, sanções a s importações. Benjamin diz que vai conversar com todos os candidatos para expor o novo pensamento da Fiesp. Se depender das suas relações com o candidato ao governo de São Paulo Aloizio Mercadante e com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, Dilma Rousseff já sabe da primeira a  última letra do compêndio. O candidato tucano José Serra acha que o problema pode ser resolvido com um ajuste fiscal e um câmbio um pouco mais sujo. Mas haja sujeira e ajuste para equiparar o diferencial de preço de bens e equipamentos vendidos por países com câmbio manipulado, regime de mão de obra quase escrava e uma baita capacidade ociosa. Não bastasse a preservação da vida da indústria, não custa lembrar que o déficit de transações correntes, segundo projeções do Focus, deve aumentar US$ 200 bilhões entre 2008 e 2012. Insustentável segurar a conta só com investimentos diretos. É bem possível que venham manifestos pró-câmbio por aí, a exemplo do recente apoio das entidades empresariais ao BNDES. Benjamin tem um curto mandarinato para fazer a entidade voltar a ser uma peça-chave do tabuleiro nacional. Começou a mil por hora. Triste é que depois não haverá como esconder a real estatura de Paulo Skaf.

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