Acervo RR

Ultra veste o figurino de multinacional do GLP

  • 9/10/2012
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A saga do Grupo Ultra ergueu-se sobre uma santíssima trindade – Pery Igel, Helio Beltrão e Paulo Cunha, três personagens de indiscutível importância não apenas para a empresa, mas para a própria indústria brasileira. No entanto, quem deve mesmo entrar para a história como o maior estrategista da companhia é Paulo Cunha. Responsável pela consolidação do Ultra como um dos maiores conglomerados empresariais do país, Cunha está debruçado sobre um projeto grandioso, capaz de transformar o grupo numa transnacional do mercado de gás liquefeito de petróleo. O Ultra retomou as conversações para a compra de ativos de GLP da Shell na Europa. A primeira investida se deu em 2010. Na ocasião, a proposta envolvia a aquisição de todos os negócios do grupo anglo-holandês no Velho Continente. Desta vez, no entanto, segundo informações filtradas junto ao próprio Ultra, seu interesse está concentrado na companhia francesa Butagaz, controlada da Shell. Com instalações na França, Reino Unido, Holanda, Bélgica, Polônia e nos países escandinavos, a Butagaz é considerada o suprassumo dos negócios da Shell neste segmento. A empresa engloba os ativos mais rentáveis e as unidades mais modernas, sobretudo na própria França e na Inglaterra. O RR apurou que a operação deve chegar a  casa de US$ 1 bilhão. O acordo poderá contemplar a permanência da Shell como acionista minoritária. Procurado, o Grupo Ultra não quis comentar as informações. Paulo Cunha vislumbra a operação como o ponto de partida para um projeto ainda maior. Sua ideia é fazer do Ultra um consolidador global de ativos no setor, com ramificações não apenas na Europa, mas também nos Estados Unidos e na América Latina. Cunha enxerga este movimento como algo que vai além das fronteiras do grupo. É quase um projeto de Estado, dada a estratégia de ocupação geoeconômica intrínseca ao empreendimento e o potencial de geração de divisas para o país. Por esta linha de raciocínio, nada mais natural que o BNDES viesse a se engajar nos planos do Ultra. O projeto se encaixa com a política do banco de estimular a criação de grandes grupos nacionais com capacidade de inserção no mercado global. Ressalte-se que o Ultra surfa na crise europeia. Cálculos internos mostram que, há cerca de dois anos, este mesmo pacote de ativos pendurados na Butagaz não sairia por menos de US$ 1,5 bilhão. Além do custo de oportunidade, não é de hoje que Paulo Cunha sonha em ampliar as operações internacionais do Ultra. Hoje sua atuação no exterior está restrita a  Oxiteno, que tem três fábricas no México, uma na Venezuela e outra nos Estados Unidos, além de escritórios comerciais na Argentina, Colômbia, Bélgica e China. Com a compra da Butagaz, a Ultragaz já desembarcaria na Europa com o status de uma das maiores distribuidoras de GLP em alguns dos mais importantes mercados do continente. A operação, ressalte-se, terá também desdobramento no próprio tabuleiro de forças das diferentes áreas do Ultra. Caso feche a aquisição da Butagaz, a Ultragaz se consolidará como a segunda maior fonte de receita do grupo, a  frente da própria Oxiteno e atrás apenas do negócio de distribuição de combustíveis, leia-se Ipiranga.

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