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Bradesco assombra os “meninos” do Itaú Unibanco

  • 27/09/2012
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Se vivo fosse, José Carlos Moraes Abreu estaria certamente aconselhando seus “meninos”: “Eu conheço bem a concorrência e suas mumunhas. É a escola do “devagar e sempre”, portanto, a hora é de prudência. A soberba é a nossa pior conselheira”. Moraes Abreu, falecido recentemente, sucedeu Olavo Setúbal na presidência do Banco Itaú e, até o ano passado, comandava o Conselho de Administração do Itaú Unibanco. Juntamente com o patriarca Olavo Setúbal e o muitas vezes injustamente esquecido Eudoro Villela, terçou floretes na maior elegância com Amador Aguiar e Lázaro Brandão. Seus “meninos” são Roberto Setúbal e irmãos, que, junto com os Moreira Salles, representam o que há mais de esnobe no sistema bancário brasileiro. E o problema é que até as paredes do nº 100 da Praça Alfredo Egydio de Souza Aranha, sede do Itaú Unibanco, comentam entre si a indigestão tardia provocada pela fusão. Não se trata de uma situação de pânico, por assim dizer. Mas são preocupantes os custos decorrentes de um dos casamentos mais celebrados da banca nacional. Chama a atenção a cadente harmonia no comando da instituição bifronte, cujos principais executivos são, em número cada vez maior, egressos das fileiras do antigo Unibanco. Os Setúbal pagaram caro para disparar no ranking de ativos bancários e deter a primazia na gestão do gigante. Tanto em um caso quanto em outro, não se pode afirmar que tenham perdido, mas ninguém melhor do que os próprios acionistas controladores para perceber a corrosão acentuada dos seus alicerces. Os números são didáticos. Em setembro de 2008, os ativos totais do Itaú representavam R$ 396,6 bilhões. O dote do Unibanco era de R$ 179 bilhões. Os dois juntos ultrapassaram o Bradesco, a  época com R$ 422,6 bilhões, em 36%, somando R$ 574 bilhões. Foi uma goleada. E os Setúbal e os Moreira Salles, não obstante a decantada elegância, vaticinaram que a fusão significaria, senão a pá de cal do Bradesco, um tiro de morte na sua autoestima. A Cidade de Deus, sem dúvida, acusou o golpe. Mas repetiu como um mantra que reagiria por meio das suas operações no greenfield. Ninguém acreditou, muito menos os Setúbal e os Moreira Salles. De lá para cá, o que se verificou foi, das quatro uma: leniência do Itaú Unibanco, incompetência do Itaú Unibanco, eficiência do Bradesco ou todas as variáveis combinadas. Em 2009, a diferença entre os ativos das duas instituições caiu de 36% para 20%. Em 2010, recuou para 18,5%. Em 2011, o índice foi de 11%. Em junho de 2012, o gap atingiu 6,9%. Nessa velocidade, o placar vira antes da Copa do Mundo de 2014. O Itaú tem reclamado que esse encurtamento da diferença se deve ao intensivo uso, pelo Bradesco, das debêntures como forma de crédito. Em parte, o argumento procede, mas, no todo, não é verdadeiro. O Itaú também carrega uma expressiva carteira desses títulos, inclusive maior do que a do concorrente. Os Setúbal e os Moreira Salles têm procurado responder por meio do que sabem fazer de melhor: buscar aumentos de eficiência e rentabilidade, sobretudo por intermédio de cortes de pessoal. Faz parte do jogo e o mercado adora. Mas a partida de fundo pela liderança do ranking por ativos é a que, no momento, parece ferir mais os brios da realeza bancária. Se Moraes de Abreu pudesse intervir, repetiria várias vezes: “Cuidado com a soberba”.

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