Graça fala em nome de "Deus" na Insiderbras

  • 14/08/2012
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A Petrobras instaurou um regime de exceção nas suas relações com o mercado de capitais. Seus dirigentes falam o que querem e quando querem sem se preocupar com o impacto das suas declarações na flutuação do preço das ações. Para a estatal, portanto, não existe manipulação de mercado. Ela é diferente. O que já era um desrespeito a um princípio basilar da governança foi levado ao paroxismo com o ingresso de Maria das Graças Foster na presidência da companhia. Talvez ela nem tenha pecado tanto por incontinência verbal, mas, quando se reporta ao mercado, suas declarações são imediatamente interpretadas como um fato consumado. O senso comum é que Graça vocaliza Dilma Rousseff, até que a presidente da República diga o contrário. Por exemplo: ninguém mais tem dúvida de que o governo aumentará os preços dos combustíveis até o fim do ano. Não seria por causa da necessidade de cobertura das contas fiscais por meio dos dividendos pagos pela Petrobras? Também. Essa medida não seria ainda condição sine qua nom para o reequilíbrio do nível de endividamento e a recuperação dos resultados da empresa? Certamente. Mas ninguém mais questiona que os preços serão elevados ainda neste ano – muito provavelmente nos próximos 30 dias – por uma questão simples e objetiva: Graça garantiu, de forma tonitruante, que o reajuste vai sair, desmentindo, na ocasião, o próprio ministro Edison Lobão, seu superior hierárquico. Como tem de produzir receita para ajudar o governo a chegar próximo da meta de superávit primário, a presidente da Petrobras já se imbuiu da missão de cavucar o lucro nos últimos cinco meses do ano. E tome de deitar falação de como a empresa vai fazer aqui e ali para jorrar recursos sem que o aumento da produção de petróleo dê o ar da sua graça. Vale todo o tipo de casuísmo. Graça já anunciou, por exemplo, que “levará” ao Conselho proposta para que a distribuição de dividendos seja a que melhor aprouver ao governo. Ou seja: estender a s ONs a mesma regra aplicada a s PNs. Maria das Graças Foster não está reinventando a roda. O que ela traz de inovação é apenas a sua madrinha. Manipular o mercado, seja por meio de declarações públicas de seus executivos, seja escondendo no armário informações estratégicas, é prática recorrente na Petrobras. Um dos exemplos mais emblemáticos é o próprio pré-sal. Durante meses, a companhia manteve guardadas a sete chaves as descobertas na nova camada. O ex-diretor da estatal Ildo Sauer chegou a declarar que a empresa tinha conhecimento sobre o présal desde meados de 2006. Entre a suposta data da descoberta e o anúncio oficial, que ocorreu apenas em 2007, as ações preferenciais subiram de US$ 8 para US$ 27, o que é visto por muitos como indício de que houve vazamento de informações sobre as novas reservas no pré-sal. Nos Estados Unidos, diversos investidores que negociavam ADRs da Petrobras foram presos acusados de insider information. Outro episódio que maculou a biografia da empresa foi a subscrição de ações liderada pelo governo com o intuito de reduzir a participação de investidores estrangeiros. Quando a operação foi anunciada, a ação preferencial era cotada a US$ 20. Após a subscrição, lastreadas em barris de petróleos a serem produzidos no futuro – e, como dizia Althusser, o futuro demora muito ainda -, o papel caiu para US$ 8. Se a tela ainda estivesse em branco e o quadro, por ser pintado, faria melhor vista transformar a Petrobras em uma autarquia vinculada a  Presidência da República

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